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A bee lands on a poppy flower in a wildflower meadow.
As outras flores que a abelha visitou recentemente influenciarão o modo como ela julgará essa flor. Scott-Cartwright-Photography/Moment via Getty Images

Assim como os humanos, abelhas também usam critérios irracionais ao escolher as flores para se alimentar

Assim como as pessoas que se deparam com um mar de opções no supermercado, as abelhas que procuram alimento encontram muitas flores diferentes ao mesmo tempo. Elas precisam decidir quais visitar para se alimentar, mas nem sempre isso é uma escolha simples.

As flores oferecem dois tipos de alimento: néctar e pólen, que podem variar em aspectos importantes. O néctar, por exemplo, apresenta diferenças em concentração, volume, taxa de recarga e acessibilidade. Também contém metabólitos secundários, como a cafeína e a nicotina, que são desagradáveis ou atraentes, dependendo da quantidade presente. Da mesma forma, o pólen tem proteínas e lipídios que afetam o valor nutricional.

Quando confrontadas com essas opções, é de se esperar que as abelhas sempre escolham as flores com néctar e pólen mais acessíveis e de melhor qualidade. Mas elas não o fazem. Em vez disso, assim como os compradores de supermercado, as decisões sobre quais flores visitar dependem de sua experiência recente com espécies semelhantes e de quais outras flores estão disponíveis.

Acho esses comportamentos fascinantes. Minha pesquisa examina como os animais fazem escolhas diárias, especialmente quando procuram comida. Acontece que as abelhas e outros polinizadores tomam os mesmos tipos de decisões irracionais de “compras” que os humanos.

Previsivelmente irracional

Os seres humanos são, às vezes, ilógicos. Por exemplo, uma pessoa que ganha US$ 5 em uma raspadinha imediatamente após ganhar US$ 1 em outra ficará entusiasmada, ao passo que a mesma pessoa que ganha US$ 5 em uma raspadinha pode ficar desapontada se tiver recebido antes um prêmio de US$ 10. Ou seja, a percepção muda dependendo do que aconteceu antes.

Isso também ocorre quando as pessoas avaliam os rótulos dos produtos. Não é raro que considerem que uma garrafa de vinho cara com um rótulo francês sofisticado seja melhor do que uma garrafa barata e de aparência genérica. Mas, se houver um descompasso entre a qualidade e a expectativa de que um produto seja bom, o resultado pode ser a pessoa se sentir desproporcionalmente decepcionada ou encantada.

Os compradores também são muito sensíveis ao contexto de suas escolhas. Esses comportamentos irracionais são tão previsíveis que as empresas criaram maneiras inteligentes de explorar as tendências ao precificar e embalar produtos, criar comerciais, estocar prateleiras e projetar sites e aplicativos. Mesmo fora do ambiente de consumo, as opções irracionais são tão comuns que influenciam a forma como os políticos elaboram políticas públicas e tentam influenciar o comportamento do voto.

Mentes semelhantes

Pesquisas mostram que as abelhas e os seres humanos compartilham muitas dessas condutas. Um estudo de 2005 descobriu que as abelhas avaliam a qualidade do néctar em relação à sua experiência alimentar mais recente. As abelhas treinadas para visitar uma fonte com néctar de qualidade média o aceitaram prontamente, enquanto as abelhas treinadas para visitar uma fonte com néctar de alta qualidade rejeitaram com frequência o néctar de qualidade média.

Minha equipe e eu queríamos explorar se as características florais, como aromas, cores e padrões, poderiam servir como rótulos de produtos para as abelhas. No laboratório, treinamos grupos de abelhas para associar determinadas cores de flores artificiais a “néctar” de alta qualidade - na verdade, uma solução de açúcar que podíamos manipular.

Configuração de laboratório mostrando uma caixa retangular com tela e discos de plástico azuis em uma extremidade. Na outra extremidade, há um pequeno orifício na tela que acomoda um tubo que leva a uma caixa preta menor.
A colônia de abelhas, à direita, está ligada por um túnel à arena de forrageamento, à esquerda, onde discos coloridos servem como flores artificiais. Claire Hemingway, CC BY-SA

Por exemplo, treinamos um grupo para associar flores azuis a néctar de alta qualidade. Em seguida, oferecemos a esse grupo néctar de qualidade média em flores azuis ou amarelas.

Descobrimos que as abelhas estavam mais dispostas a aceitar o néctar de qualidade média das flores amarelas do que das azuis. Suas expectativas eram importantes.

Em outro experimento recente, demos às abelhas a opção de escolher entre duas flores igualmente atraentes - uma com alta concentração de açúcar, mas com reabastecimento mais lento, e outra com reabastecimento rápido, mas contendo menos açúcar. Medimos sua preferência entre as duas, que resultou semelhante.

Os discos de plástico rosa, azul e amarelo são fixados em um fundo preto.
No centro de cada flor artificial há um tubo onde a abelha entra para acessar a solução açucarada. Claire Hemingway, CC BY-SA

Em seguida, ampliamos a escolha incluindo uma terceira flor que tinha uma concentração de açúcar ainda menor ou que era ainda mais lenta para se reabastecer. Descobrimos que a presença da nova flor de baixa recompensa fez com que a intermediária parecesse relativamente melhor.

Esses resultados são intrigantes e sugerem que, tanto para as abelhas quanto para outros animais, as opções disponíveis podem orientar as decisões de forrageamento.

Usos potenciais

A compreensão desses comportamentos em abelhas e outros polinizadores pode ter consequências importantes para as pessoas. As abelhas melíferas e os zangões são usados comercialmente para sustentar bilhões de dólares de produção agrícola anualmente.

Se as abelhas visitam mais determinadas flores na presença de outras flores, os agricultores poderiam usar essa propensão de forma estratégica. Da mesma forma que as lojas estocam as prateleiras para apresentar opções pouco atraentes ao lado de outras atraentes, os agricultores poderiam plantar certas espécies de flores dentro ou perto das plantas cultivadas para aumentar a visitação às culturas que são alvo.

This article was originally published in English

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