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Mais do que identificar se um estado melhorou de posição por ter aumentado sua média, o IDEB é oportunidade para se levantar os motivos que levaram algumas escolas a obterem melhores resultados. E com isso, inspirar outras a também melhorarem os seus. AP Photo / Marcelo Sayão (Arquivo)

Muito mais que comparar desempenhos escolares, resultados do IDEB indicam por onde pode evoluir nossa educação

Na semana passada, a divulgação dos dados Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) referentes ao ano de 2023 ganharam grande repercussão nacional, com os estados e cidades (entre elas o Rio de Janeiro) que tiveram evoluçÕes consideráveis no ranking comemorando com razão o desempenho. Mas a leitura dos resultados do IDEB pode e deve ir muito além da mera comparação de desempenhos.

Antes de mais nada: o que é, exatamente, o IDEB? Ele é um indicador gerado a partir de dois vetores: o censo escolar, com foco nas aprovações, e o SAEB, Sistema de Avaliação da Educação Básica. Um representa o avanço dos estudantes e o outro o desempenho quando avançam. E o foco do índice está na avaliação de desempenho nas áreas de matemática e língua portuguesa.

Mas o mais oportuno desse debate sobre o IDEB não é avaliar pontualmente estes desempenhos, e sim refletir sobre a qualidade e a importância da educação como elemento propulsor para a transformação social do país. É aproveitar o ensejo para perguntar: para onde esta indo a educação pública brasileira?

Dentro desta perspectiva, diferentes pesquisas já tem se desenvolvido recentemente com o foco na compreensão de como qualificar os processos de aprendizagem e como garantir que os alunos tenham a melhor experiência possível nos espaços formais de ensino.

Momentos históricos da evolução da educação

Esse movimento ao longo do tempo deu origem a diferentes momentos, que os autores Andy Hargreaves e Dennis Shirley definem em seu livro “The Fourth Way: The Inspiring Future for Educational Change” (“O quarto caminho: um futuro inspirador para mudanças na educação”, em tradução livre).

Na perspectiva dos autores, os processos de gestão pública de educação avançaram em quatro momentos. A primeira delas após a segunda guerra mundial, e até meados da década de 70. Esta fase foi reconhecida como um momento de inovação e de inconsistência nas ações.

O segundo movimento ocorreu entre os anos 70 e meados dos anos 90. Com foco no mercado e na padronização, buscava-se o uso de indicadores de performance orientados de cima para baixo pelos governos.

O terceiro movimento, que inicia em meados da década de 90, priorizava performances e parcerias. E o quarto e último movimento - que na verdade é uma proposição dos autores - articularia envolvimento profissional, engajamento público e visão nacional do governo na busca por desenvolver aprendizagem, desempenho e bem-estar coletivos.

Quando penso nos grandes testes padronizados e no foco no controle e desempenho, instantaneamente lembro do segundo movimento, período de busca de indicadores top- down para definir diretrizes e buscar a sonhada melhoria na educação.

Talvez por isso eu tenha algumas restrições com relação a avaliações padronizadas, nacionais, e que buscam mensurar desempenho em áreas especificas. Como poderíamos, por exemplo, medir o impacto da proposta do educador finlandês Pasi Sahlberg - que enfatiza que a educação deve capacitar as crianças a aprenderem a ter iniciativa e a serem criativas, trocando o simples acúmulo de conhecimentos por propostas como ampliação do tempo de recreio e melhoria dos espaços para as crianças brincarem - por meio de uma avaliação de desempenho?

Corrida sem vencedores nem perdedores

Essa questão por si só já gera debates sobre a dimensão da relevância dos resultados das avaliações de desempenho. Mas não há dúvida que, em alguma medida, elas podem nos apontar caminhos. E é a partir deste contexto que devemos observar os dados do IDEB.

Desde a divulgação dos dados nacionais, estamos vendo uma corrida para verificar as diferentes escolas, ver em que estados estão as melhores, comparar desempenhos e identificar, em última instância, “vencedores” e “perdedores” em uma corrida que deveria ser, antes de mais nada, colaborativa.

Em linhas gerais, quando observados anos iniciais e finais do ensino fundamental, as escolas do Nordeste dominam o ranking. Além disso, as 21 escolas que ficaram com nota 10 estão ou no Ceará (15 escolas), ou em Pernambuco (uma escola), ou em Alagoas (5 escolas)

Quando olhamos para o ensino médio, o ranking das 100 melhores escolas se distribui mais, tendo seis estados com destaque, incluindo São Paulo, que possui 24 escolas no ranking, e Ceará, com 19.

Apesar dos destaques nos rankings, o principal objetivo do IDEB deveria ser orientar na identificação e ampliação de boas práticas educacionais. Boas práticas que poderiam e deveriam ser levadas para outros espaços, tornando-se diretrizes e caminhos para uma melhor educação para todos, e gerando um melhor desempenho global do sistema.

Nesse sentido, mais do que identificar se um estado melhorou de posição por ter aumentado 0,1 em sua média, é fundamental entendermos os motivos que levam algumas escolas a obterem melhores resultados. E com isso, inspirar outras a também melhorarem os seus.

A importância da valorização do pro0fessor

Dentre as boas práticas já conhecidas, já há muitas as que podem ser consideradas importantes para o mjelhor desempenho escolar como um todo. A aposta no tempo integral, por exemplo, ou o foco mais atento nas demandas dos alunos. Entretanto, dentre os pontos que aparecem como fundamentais no desempenho dos estudantes, está a valorização do professor.

A valorização do professor passa por elementos que incluem, mas vão muito além da remuneração. Aqui, cabe destacar a importância da formação e desenvolvimento continuado. É essencial criar espaços para que o professor se desenvolva em diferentes competências, que não se limitam a um processo de comunicação do conteúdo e incluem a mediação, a articulação dos saberes, a escuta ativa, entre outras.

Todo o processo de ensino aprendizagem pressupõe a construção do conhecimento e do aprendizado a partir da relação, a partir da troca ativa entre professores e alunos. Este processo envolve construir um espaço de bem-estar, de pertencimento e de engajamento, como destaca o livro: 5 caminhos para o engajamento Hargreaves e Shirley).

Assim, precisamos celebrar os bons professores e buscar a partir de seu exemplo e de suas práticas, caminhos transformadores.

As notas padronizadas são um caminho, dentre tantos. Mas a compreensão das práticas dos professores, a partir de boas conversas, parece ser um caminho assertivo para transformar a educação em nosso país.

Os dados do IDEB, mais do que simples números, devem ser vistos como uma ferramenta para reflexão e ação. Embora os rankings e as notas padronizadas atraiam grande atenção, é essencial que não percamos de vista o verdadeiro objetivo da educação: formar cidadãos críticos, criativos e preparados para os desafios do futuro.

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