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Uma mulher jovem fora de focosegurando uma reprodução do aparelho reprodutivo feminino
A endometriose pode aparecer já na primeira menstruação. Em adolescentes, a natureza específica das lesões e a falta de conhecimento sobre a doença tornam o diagnóstico ainda mais difícil. Peakstock/Shutterstock

Endometriose em adolescentes: diagnóstico e tratamento precoces são essenciais

Uma mulher em cada dez mulheres é afetada pela incapacitante endometriose. Apesar disso, a doença ainda é amplamente desconhecida. E, em vista dos muitos desafios que apresenta, é essencial dar atenção especial a ela.

A endometriose é uma doença ginecológica caracterizada pela presença de tecido semelhante à mucosa uterina fora da cavidade do útero, principalmente, mas não exclusivamente, na área abdomino-pélvica (ovários, intestino, peritônio, etc.).

Começo já na primeira menstruação

Longe de ser exclusividade de mulheres adultas, a endometriose pode aparecer já na primeira menstruação, acrescentando dificuldades inesperadas à já turbulenta jornada da adolescência.

A origem desse distúrbio ainda não foi determinada, mas ele pode causar dor no baixo ventre, às vezes crônica, e possivelmente infertilidade e outros sintomas, como problemas digestivos.

Até o momento, os tratamentos disponíveis têm como objetivo principal combater os sintomas. Várias abordagens são usadas, inclusive medicamentos (anti-inflamatórios não esteroides, contraceptivos hormonais, etc.). Se essas opções não forem eficazes, pode ser recomendado tratamento cirúrgico.

Lesões mais difíceis de identificar

Embora a endometriose seja frequentemente associada a mulheres adultas, ela também é uma realidade em meninas adolescentes, nas quais foram relatados casos progressivos e, às vezes, até graves. Infelizmente, o diagnóstico ocorre muito mais tarde, com um atraso médio de cerca de 8 anos após o aparecimento dos primeiros sintomas.

O diagnóstico tardio pode se dever em parte às diferenças na forma como a doença se manifesta em mulheres adolescentes e adultas. As adolescentes com endometriose geralmente apresentam lesões vermelhas ou de cor clara, o que pode dificultar sua identificação pelos profissionais de saúde, em comparação com as lesões em adultas, conhecidas como “queimaduras de pólvora negra”, mais facilmente observadas, principalmente por exames de imagem. O pequeno tamanho das lesões em meninas adolescentes também pode dificultar sua detecção.

Além disso, mulheres jovens logo começam a tomar pílulas anticoncepcionais, reduzindo os sintomas. E quando os sintomas diminuem, os profissionais de saúde não necessariamente realizam outros exames, e o diagnóstico não é feito. Mas, se for de fato endometriose, a doença continua a progredir.

Risco de sofrimento psicológico

Quando se pensa em tratar a endometriose em adolescentes, as opções de medicação baseadas em anti-inflamatórios não esteroides e contraceptivos hormonais são geralmente preferidas. Também é essencial incorporar uma abordagem multidisciplinar ao tratamento, inclusive apoio psicológico, o que é crucial quando se considera as múltiplas repercussões que essa condição pode ter nas mulheres.

As consequências psicológicas, sociais e educacionais são inegáveis, com um risco aumentado de angústia psicológica e transtornos de ansiedade em mulheres jovens.

Às vezes, essas repercussões se refletem em uma alta taxa de absenteísmo escolar, com um impacto negativo significativo na educação das mulheres. Entretanto, as consequências da doença não param por aí, levando a uma redução das atividades diárias e deterioração dos relacionamentos sociais e íntimos.

Dor menstrual sugere a doença

Embora não seja necessariamente sinônimo de endometriose, a dor menstrual pode, em alguns casos, ser sugestiva da doença. É o distúrbio ginecológico mais comum que afeta meninas adolescentes, com uma prevalência que varia de 34% a 94% de acordo com a literatura científica.

Assim como a endometriose, a dor menstrual é um verdadeiro desafio para as adolescentes. Ela pode levar a sofrimento psicológico, com aumento do risco de depressão e limitação das atividades diárias.

Distúrbios pouco reconhecidos

Além disso, há uma falta de apoio e reconhecimento da família, dos amigos e dos serviços médicos. Essa é uma dificuldade adicional enfrentada por adolescentes que precisam lidar com sintomas menstruais relacionados a menstruações dolorosas e/ou endometriose.

Isso se deve, em parte, à falta de conhecimento sobre menstruação, sintomas menstruais e endometriose, que estão sujeitos a estigmatização, normalização e atitudes negativas tanto entre as próprias adolescentes quanto em seus círculos familiares, educacionais e de amizade.

Falta de conscientização

Um estudo francês com mulheres que haviam sido diagnosticadas com endometriose mostrou que algumas delas não tinham conhecimento da doença, sendo que 35% acreditavam que seus sintomas eram normais.

Ainda mais impressionante é o fato de que 60 % delas disseram que seus sintomas foram descritos como “ normais ” pelos médicos. Esse fenômeno de estigmatização e normalização cria um ambiente sem apoio, deixando as adolescentes impotentes para lidar com a dor menstrual e, em alguns casos, com a endometriose.

Como resultado, há um maior atraso na identificação da doença.

Educação sobre saúde menstrual

Nesse contexto, é fundamental avaliar as necessidades educacionais em relação à endometriose e à dor menstrual, a fim de melhorar a qualidade de vida das adolescentes. O objetivo não é apenas dissipar os preconceitos das próprias adolescentes, mas também de seus círculos familiares, escolares e sociais, melhorar o controle da dor e também incentivar o diagnóstico precoce da doença.

Apesar de um esforço crescente para aumentar a conscientização pública sobre essas questões, atualmente há muito poucas iniciativas de prevenção e educação. Portanto, esforços significativos precisam ser feitos para enfrentar os desafios educacionais associados à endometriose e, de forma mais geral, à saúde menstrual das adolescentes.

Abordagens não medicamentosas

Além do aspecto educacional, é imperativo iniciar uma pesquisa para melhorar a compreensão das características específicas da doença nessa população.

Isso também ajudaria a orientar as iniciativas de promoção da saúde, incentivando as jovens a assumir um papel ativo em seu próprio bem-estar.

Nesse sentido, abordagens não medicamentosas, como a promoção da atividade física, poderiam ser favorecidas.

Avaliando os benefícios da atividade física

Na verdade, a atividade física atua como um fator de proteção contra o desenvolvimento de doenças crônicas. Ela poderia ajudar a melhorar o controle da dor na endometriose.

Entretanto, é preocupante observar que 85% das meninas adolescentes não praticam atividades físicas o suficiente, de acordo com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Por outro lado, um relatório do Conseil des Sages de Laïcité (Conselho de Sábios do Laicismo, em tradução livre) destaca a tendência de as meninas evitarem as sessões de educação física e esportiva (EF), e é mais provável que elas usem atestados médicos para serem dispensadas dessas aulas do que os meninos. Esse relatório menciona motivos íntimos que, pelo menos em parte, podem estar relacionados à menstruação e à dor potencialmente associada a ela.

Em conclusão, a questão da endometriose em meninas adolescentes requer uma abordagem holística. Pesquisas dedicadas e esforços educacionais são essenciais se quisermos alcançar um futuro em que a endometriose em adolescentes seja diagnosticada precocemente, gerenciada de forma eficaz, conhecida e compreendida por todos os envolvidos na esfera social das adolescentes e em que as mulheres jovens tenham o poder de tomar decisões informadas sobre sua saúde.

This article was originally published in French

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