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Pequeno helicóptero com 4 ferros apoiados num solo pedregoso
O helicóptero Ingenuity em Marte. NASA/JPL-Caltech/ASU/MSSS

Helicóptero Ingenuity encerra missão histórica em Marte; sucesso abre caminho para mais veículos em outros planetas

É difícil dimensionar o tamanho da importância que representaram para a história da exploração espacial os marcos alcançados pelo Ingenuity, o helicóptero da Nasa em Marte.

O pequeno objeto voador de 1,8 k chegou a Marte com o rover Perseverance em 2021. Na semana passada, a Nasa anunciou que o veículo voador teve que realizar um pouso de emergência, que danificou um de seus rotores. E encerrou sua missão.

A exploração espacial segue sendo extremamente desafiadora. Mas os três anos de serviços prestados pelo Ingenuity provaram que o voo motorizado e controlado em Marte é possível.

O pequeno helicóptero durou muito mais do que o planejado e voou mais alto e mais longe do que muitos imaginavam. Além desse experimento marciano, o sucesso do Ingenuity abre caminho para outras missões que utilizam veículos voadores para explorar planetas e luas.

O começo na nossa Lua

Os primeiros pousos na Lua foram estáticos. O ano de 1969 foi provavelmente o mais importante para a exploração espacial, quando a Apollo 11 e a Apollo 12 levaram astronautas à superfície lunar, mas 1970 foi o ano da exploração planetária.

Em 1970, tivemos o primeiro pouso suave em outro planeta, Vênus. A primeira amostra robótica entregue à Terra vinda da Lua. E o primeiro robô rover a circular em outro corpo celeste (também a Lua).

Desde então, após mais de 50 anos de exploração planetária e desenvolvimento de tecnologia, houve apenas um pequeno número de missões de superfície bem-sucedidas, e menos ainda foram capazes de se mover. Vênus foi visitada por uma dúzia de sondas estáticas entre 1970 e 1985, e nunca mais.

De rovers a helicópteros

Antes da chegada do módulo Pathfinder e do rover Sojourner em 1997, apenas três pousos em Marte tiveram sucesso, entre 1971 e 1976. A espaçonave europeia Huygens pousou em Titã, lua de Saturno, em 2005.

Essas tentativas de chegar à superfície são raras, extremamente difíceis e, historicamente, os veículos de pouso quase nunca eram móveis. No entanto, os rovers Spirit, Opportunity, Curiosity e Perseverance da Nasa em Marte superaram seus projetos e foram cada vez mais longe.

E o Ingenuity voou.

Ele não foi o primeiro a voar em outro planeta. Estes seriam os balões lançados pelas missões soviéticas Vega 1 e 2, que flutuaram sobre Vênus em 1985. Mas o Ingenuity tinha controle, câmeras e conectividade. Tirou fotos de seu rover e de Marte de uma perspectiva totalmente nova. Ele chamou a atenção do mundo e conquistou nossos corações.

Em Moscou, tive a oportunidade de ver modelos e réplicas dos balões Vega e do primeiro veículo lunar. Eles me impressionaram mais do que os rover gêmeos de Marte que estão expostos no Jet Propulsion Laboratory (JPL) da Nasa, na Califórnia. As missões soviéticas eram mais audaciosas e diferentes, e eram de gerações atrás, antes da minha época e muito antes da minha carreira como cientista planetário.

O Ingenuity era audacioso, original e completamente novo. As fotos que tirou do Perseverance, encontrando tecnologia descartada pelo módulo na descida que o levou a Marte e das paisagens marcianas a partir de uma visão aérea, foram de tirar o fôlego. Enquanto isso, o Perseverance também fez vídeos do Ingenuity voando. Nada parecido com o que já havia sido visto antes.

Imagem CGI de um drone prateado com oito hélices sobre a superfície marciana
Uma impressão artística da espaçonave Dragonfly em voo. NASA/Johns Hopkins APL/Steve Gribben

Voos futuros

No entanto, o Ingenuity teve um percurso difícil para chegar lá. Toda a missão Mars 2020 (do Perseverance, Ingenuity e seus sistemas de transporte) foi repentina.

Após a retirada da Nasa do programa conjunto ExoMars com a Agência Espacial Europeia, que incluía uma missão de rover em Marte, a agência espacial dos EUA começou a desenvolver um por conta própria. Esse rover Mars 2020, posteriormente denominado Perseverance, passou do anúncio ao conceito, desenvolvimento e lançamento em apenas sete anos e meio.

E o Ingenuity não foi incluído a bordo de início. Como ideia, ele foi proposto no final da fase de desenvolvimento do Mars 2020 e enfrentou séria oposição. Ele acrescentou mais complexidade, custo, risco e novos modos de falha. Também foi motivado por um objetivo de engenharia, com a possibilidade de um pouco de divulgação - a oportunidade de comunicar a ciência e a engenharia da missão ao público - em paralelo.

O Ingenuity não foi planejado para durar muito tempo. Foi projetado para provar o voo do helicóptero na fina atmosfera de Marte. Seu objetivo era realizar cinco voos curtos em um mês. Os possíveis resultados incluíam pousos difíceis, tombamento, perda de energia se os painéis solares estivessem cobertos de poeira ou perda de comunicação quando estivesse longe do rover (isso aconteceu várias vezes).

Grande balão prateado sendo lançado no deserto.
Balões robóticos aéreos, ou aerobots, como este protótipo da Nasa, poderão um dia explorar Vênus. Nasa / JPL-Caltech

Mas ele foi muito além das expectativas, sobrevivendo três anos na superfície marciana, mesmo em uma época empoeirada, e fazendo 72 voos. Grande parte de seu sucesso foi auxiliado pela rede de comunicação que existe atualmente em Marte.

O Ingenuity recebe instruções e transmite dados ao Perseverance, que se comunica com uma frota de satélites que inclui o ExoMars Trace Gas Orbiter europeu, a espaçonave Maven da Nasa e o Mars Reconnaissance Orbiter. Esses, por sua vez, se comunicam com duas redes de espaço profundo na Terra, sistemas de antenas de rádio em todo o mundo que comandam e rastreiam as espaçonaves.

Foram necessários 50 anos de exploração planetária para chegar até aqui, mas já podemos ver o impacto que a missão do Ingenuity está causando na exploração futura. A próxima aeronave de asas rotativas interplanetária será a missão Dragonfly para a lua de Saturno Titã.

Ela será muito diferente do Ingenuity. Pesará cerca de uma tonelada e voará com oito rotores. É um veículo enorme, projetado para voar na espessa atmosfera de Titã.

Uma das próximas missões ao Planeta Vermelho será a Mars Sample Return, com o objetivo de coletar contêineres de amostras de solo marciano que estão sendo preparados e armazenados pelo Perseverance. Isso foi planejado para ser realizado com o uso de um rover, mas o sucesso do Ingenuity levou à ideia - e agora ao desenvolvimento - de um helicóptero para fazer isso.

O futuro que o Ingenuity abriu para nós é empolgante. Veremos helicópteros em Marte e Vênus, mais balões em Vênus, veículos nadadores sob as luas geladas de Júpiter e Saturno e talvez até um ou dois aviões.

This article was originally published in English

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