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Detalhe de massa de cacau bruto usada na mistura com açúcar, leite e manteiga de cacau para fazer o chocolate: a semente crua e não refinada da fruta é uma maravilha medicinal, com muitos compostos ativos que podem ter efeitos farmacológicos no corpo. Eduardo Knapp/Folhapress

Páscoa: Comer chocolate pode mesmo fazer bem para você. Veja o que dizem os estudos

Embora eu sempre faça uma careta ao ver os ovos de Páscoa aparecerem pela primeira vez nos supermercados ainda no final de dezembro, são poucas as pessoas que não ficam felizes em ganhar um pouco de chocolate todos os anos.

Faz sentido que o excesso de chocolate seja ruim para você devido ao alto teor de gordura e açúcar na maioria dos produtos. Mas o que devemos pensar das alegações comuns de que comer um pouco de chocolate é realmente bom para a saúde?

Felizmente, há uma quantidade razoável de evidências que mostram que, nas circunstâncias certas, o chocolate pode ser benéfico para o coração e bom para o estado mental.

De fato, o chocolate ou, mais especificamente, o cacau, a semente crua e não refinada, é uma maravilha medicinal. Ele contém muitos compostos ativos diferentes que podem provocar efeitos farmacológicos no corpo, como medicamentos ou drogas.

Os compostos que levam a efeitos neurológicos no cérebro precisam ser capazes de atravessar a barreira hematoencefálica, o escudo protetor que impede que substâncias nocivas, como toxinas e bactérias, entrem no delicado tecido nervoso.

Uma delas é a substância teobromina, que também é encontrada no chá e contribui para seu sabor amargo. O chá e o chocolate também contêm cafeína, à qual a teobromina está relacionada como parte da família de substâncias químicas conhecida como “purinas”.

Essas substâncias químicas, entre outras, contribuem para o caráter viciante do chocolate. Elas têm a capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica, onde podem influenciar o sistema nervoso. Portanto, são conhecidas como substâncias químicas psicoativas.

Que efeitos o chocolate pode ter sobre o humor? Bem, uma revisão sistemática analisou um conjunto de estudos que investigou as sensações e emoções associadas ao consumo de chocolate. A maioria demonstrou melhorias no humor, na ansiedade, na energia e nos estados de excitação.

Alguns estudos também observaram um sentimento de culpa neste consumo, que talvez seja algo que todos nós já sentimos depois de comer muitos produtos lácteos.

Benefícios do cacau para a saúde

Mas há outros órgãos, além do cérebro, que podem se beneficiar dos efeitos medicinais do cacau. Durante séculos, o chocolate foi usado como medicamento para tratar uma longa lista de doenças, incluindo anemia, tuberculose, gota e até mesmo baixa libido.

Essas alegações podem ser espúrias, mas há evidências que sugerem que o consumo de cacau tem um efeito positivo sobre o sistema cardiovascular. Primeiro, ele pode prevenir a disfunção endotelial. Esse é o processo pelo qual as artérias endurecem e ficam carregadas de placas de gordura, o que, por sua vez, pode levar a ataques cardíacos e derrames.

O consumo de chocolate amargo também pode reduzir a pressão arterial, que é outro fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardíacas, e evitar a formação de coágulos que obstruem os vasos sanguíneos.

Alguns estudos sugeriram que o chocolate amargo pode ser útil no ajuste das taxas de colesterol de lipoproteína de alta densidade no sangue, o que também pode ajudar a proteger o coração.

Outros analisaram ainda a resistência à insulina, o fenômeno associado ao diabetes tipo 2 e ao ganho de peso. Eles sugerem que os polifenóis - compostos químicos presentes em plantas e encontrados em alimentos como o chocolate - também podem levar a um melhor controle dos níveis de açúcar no sangue.

Toxicidade do chocolate

Mas por mais que o chocolate possa ser considerado um remédio para alguns, ele pode ser um veneno para outros, e não só os seres humanos.

Está bem documentado que a ingestão de cafeína e teobromina é altamente tóxica para animais domésticos. Os cães são particularmente afetados por causa de seu apetite voraz e de sua natureza geralmente pouco exigente.

O culpado geralmente é o chocolate amargo, que pode provocar sintomas de agitação, rigidez muscular e até convulsões. Em certos casos, se ingerido em quantidades suficientemente altas, pode levar ao coma e a ritmos cardíacos anormais e até mesmo fatais.

Alguns dos compostos encontrados no chocolate também têm efeitos potencialmente negativos em seres humanos. O chocolate é uma fonte de oxalato que, junto ao cálcio, é um dos principais componentes das pedras nos rins.

Algumas sociedades médicas também desaconselham o consumo de alimentos ricos em oxalato, como espinafre e ruibarbo, e chocolate, para pessoas que sofrem de cálculos renais recorrentes.

Então, o que tudo isso significa para nossos hábitos de consumo de chocolate? A ciência aponta na direção de um chocolate que tenha o maior teor possível de sólidos de cacau e o mínimo de ingredientes extras. Os efeitos potencialmente prejudiciais do chocolate estão mais relacionados à gordura e ao açúcar adicionados e podem neutralizar os possíveis benefícios.

Uma dose diária de 20 g a 30 g de chocolate puro ou amargo com sólidos de cacau acima de 70%, em vez de chocolate ao leite, que contém menos sólidos, e chocolate branco, que não contém nenhum, pode trazer mais benefícios para a saúde, além de ser mais gostoso.

Mas seja qual for o chocolate que você escolher comer, não o compartilhe com seu cachorro.

This article was originally published in English

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