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Mão de médico marca uma pinta suspeita nas costas de uma mulher
Diversas estratégias de imunoterapia estão em desenvolvimento na luta contra um dos cânceres de pele mais agressivos e letais conhecidos. LightField Studios / Shutterstock

Como funcionam as anunciadas vacinas contra o melanoma

Recentemente, as empresas Moderna e Merck anunciaram que poderiam ter sua vacina contra o melanoma pronta até 2025. De fato, elas já iniciaram os testes clínicos de sua terapia promissora contra este tipo de câncer de pele.

Todo ano, cerca de 325 mil novos casos de melanoma são diagnosticados em todo o mundo. Esse número destaca a necessidade de estratégias inovadoras e eficazes para combater um dos cânceres de pele mais agressivos e letais conhecidos.

Anatomia de um assassino

Quando as células da pele responsáveis pela produção do pigmento que nos dá a nossa cor sofrem uma mutação e começam a crescer fora de controle, elas formam o tumor maligno chamado melanoma, que pode se espalhar para outras partes do corpo.

A exposição à radiação ultravioleta (UV) da luz do Sol é um dos principais fatores de risco, juntamente com a predisposição genética e um histórico de queimaduras solares graves e repetidas ao longo da vida. Estima-se que cerca de 80 % dos melanomas cutâneos se originam em uma pele aparentemente saudável. Isso significa que apenas 20% se originam de uma lesão cutânea anterior, como uma verruga.

Embora o aparecimento de novas pintas seja comum até os 40 anos de idade, é essencial monitorar quaisquer alterações. Esse monitoramento é baseado no sistema ABCDE (assimetria, bordas, cor, diâmetro e evolução) para a detecção precoce de possíveis lesões malignas.

Quando o sistema imune é cúmplice dos tumores

O sistema imune desempenha um papel crucial no reconhecimento e na eliminação das células cancerosas, inclusive as do melanoma. Como esquadrões militares, as células imunes patrulham constantemente nossa pele em busca de células anormais que possam colocar nossa saúde em risco.

Esse processo é chamado de imunovigilância e baseia-se no reconhecimento de antígenos, as moléculas na superfície das células que sinalizam ao sistema imune a presença de entidades estranhas. Elas são como “bandeiras” que identificam as células nocivas e permitem que as células imunes sejam mobilizadas para erradicá-las.

Entretanto, em alguns casos, as células cancerosas conseguem evitar a detecção ou empregam táticas para suprimir a resposta imune, abrindo caminho para a progressão do tumor.

Os riscos da imunoterapia

O estudo dessa capacidade das células cancerosas de evitar o sistema imune tornou-se um alvo terapêutico de grande interesse e relevância. Se soubermos o que as células fazem para “adormecer” o sistema imune, podemos desenvolver estratégias para “acordá-lo” para que ele possa cumprir sua função defensiva.

Esses tratamentos, no entanto, nem sempre são eficazes e, às vezes, podem levar à hiperreatividade das células imunes. Isso significa que as células imunes, uma vez ativadas, atacam não apenas o tumor, mas todas as células do corpo.

Diante desse dilema, foi levantada a possibilidade de direcionar seletivamente a atividade das células imunes apenas para as células tumorais. É nesse ponto que outro ramo da imunoterapia entra em ação: a criação de novas vacinas contra o câncer. A chave é desenvolver ferramentas que ajudem o sistema imune a reconhecer e atacar especificamente o tumor.

Vacinas ao resgate

Vários tipos de vacinas contra o melanoma estão sendo desenvolvidos atualmente, todos baseados na capacidade das células de reconhecer antígenos de superfície.

De um lado estão as vacinas baseadas em peptídeos. Ou seja, os antígenos que as células de melanoma normalmente carregam são selecionados, produzidos em laboratório e injetados como antídoto. Nesse caso, a estratégia é ensinar ao sistema imune quais sinalizadores procurar.

Por outro lado, está sendo pesquisado o uso de células específicas do sistema imune (células dendríticas) que são capazes de reconhecer os sinalizadores, identificar se pertencem a células saudáveis ou doentes e ensiná-los às células que precisam removê-los. Um ensaio clínico obteve uma redução de 70% no risco de mortalidade ao combinar células dendríticas do próprio paciente com um composto imunoestimulante. Embora esse estudo tenha tido limitações, como o baixo número de participantes, os resultados são animadores.

Por fim, há vacinas baseadas em RNA, como a desenvolvida pela Moderna e Merck, que funciona de forma semelhante à projetada contra a COVID-19.

Enquanto a vacina contra o coronavírus da Moderna continha uma sequência de RNA da proteína S (spike) do patógeno, a nova vacina - cujo nome técnico é mRNA-4157 (V940) - incorpora informações genéticas para produzir sinalizadores específicos para o tumor do paciente. Quando o RNA entra nas células do corpo, elas começam a produzir um grande número desses sinalizadores, tornando mais fácil para o sistema imune reconhecê-los e, portanto, sua capacidade de atingir as células cancerosas.

O tratamento está sendo testado em pacientes com melanoma metastático, cujo risco de recidiva é alto. A vacina foi combinada com um medicamento que estimula a ativação do sistema imune e, de acordo com dados preliminares, reduziu o risco de recidiva ou morte em 49% em comparação com o tratamento apenas com o medicamento. A terapia combinada também resultou em uma maior sobrevida livre de doença, reduzindo o risco de desenvolvimento de metástases em outros órgãos em 62%.

Os resultados são certamente promissores e estão no caminho certo para melhorar o tratamento do melanoma. De acordo com o vice-presidente sênior e chefe de desenvolvimento, terapêutica e oncologia da Moderna, Kyle Holen, toda a equipe está ansiosa para compartilhar esses dados com a sociedade e trazer esperança para as pessoas afetadas pela doença e suas famílias.

This article was originally published in Spanish

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