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Imagens microscópicas do Virus Nipah

O vírus mortal Nipah está de volta. Risco de disseminação no Brasil ainda é pequeno

Um novo surto do vírus mortal Nipah no estado Kerala, no sul da Índia, fez soar o alarme. Até o momento, há seis casos confirmados, dos quais quatro estão em tratamento e dois morreram. As autoridades de saúde conseguiram estabelecer o ponto de contato da última pessoa infectada, um homem de 39 anos que estava no mesmo hospital particular onde a primeira vítima do vírus (outro homem de 47 anos) procurou tratamento antes de morrer em 30 de agosto de 2023.

O Brasil, por enquanto, não apresenta um risco iminente para a introdução do Nipah. Isso só seria possível se o vírus chegasse através de viajantes. Por isso, o monitoramento das autoridades internacionais de saúde é fundamental.

A Índia registrou pelo menos cinco surtos do vírus Nipah desde 2001, um em Bengala Ocidental e quatro em Kerala. O governo indiano está trabalhando para avaliar medidas preventivas para lidar com o surto e listou os nomes de 1.080 pessoas que podem ter tido contato com as pessoas afetadas. Dessas, 297 estão na categoria de “alto risco”.

Três homens com vestes anticontaminantes examinam vidros com sangue
Agentes de saúde recolhem amostras de sangue de cabras para análise, depois da morte de um menino de 12 anos nos arredores da cidade de Kozhikode, em Kerala, em 2021. Este ano, o estado do sul da Índia volta a travar esforços contra novo surto do vírus Nipah. (AP Photo/Shijith. K)

Até o momento, as autoridades lançaram testes em massa para impedir a propagação do vírus, restringiram reuniões públicas e fecharam escolas, escritórios e transporte público. No surto também registrado no estado de Kerala em 2018, das 19 pessoas infectadas, apenas duas sobreviveram.

Um vírus extremamente perigoso

O vírus Nipah é um patógeno zoonótico emergente pertencente ao gênero Henipavirus e à família Paramyxoviridae que causa encefalite febril grave. Ele tem RNA monocatenário (de cadeia, ou fita, simples) e polaridade negativa. Devido ao seu tempo de geração extremamente curto e à evolução mais rápida, os vírus de RNA apresentam uma probabilidade maior de infecção de novas espécies de hospedeiros. Eles são considerados um dos principais fatores responsáveis por 25% a 44% das recentes doenças infecciosas emergentes.

As infecções pelo vírus Nipah foram descritas pela primeira vez durante surtos epidêmicos que afetaram criadores de suínos na Malásia e em Singapura entre 1998 e 1999. Esse episódio não só resultou em quase 300 casos e mais de 100 mortes humanas, mas também teve um impacto econômico substancial, pois mais de um milhão de porcos tiveram de ser abatidos para ajudar a controlar o surto. O nome do vírus vem de Sungai Nipah, um vilarejo na península da Malásia onde viviam os criadores de porcos que adoeceram com encefalite.

A taxa de fatalidade nos vários surtos até o momento variou de 33% a aproximadamente 75%, portanto, estamos lidando com um vírus muito perigoso. Além disso, estima-se que 25% dos sobreviventes sofram de déficits neurológicos residuais.

Embora alguns casos de infecção pelo vírus Nipah possam ser assintomáticos ou leves, a maioria das pessoas infectadas apresenta duas síndromes clínicas principais: encefalite e envolvimento predominantemente respiratório, ambas com alta mortalidade. Os sintomas iniciais são semelhantes aos da gripe, com febre alta, dor de cabeça e mialgia. Alguns pacientes apresentam sonolência, desorientação e convulsões. Muitos entram em coma.

Como ele é transmitido?

Os morcegos frugívoros do gênero Pteropus, as chamadas raposas voadoras, são os principais hospedeiros do vírus e podem transmitir o patógeno por meio de fezes e saliva. A transmissão pode ocorrer de morcegos para humanos ou por meio de porcos, que são os hospedeiros intermediários, mas também de humanos para humanos. A disseminação de humano para humano levanta preocupações de que o vírus Nipah possa causar uma nova pandemia global.

Um imenso morcego plana, de asas abertas
Os morcegos do gênero Pteropus, popularmente conhecidos como (AP Photo/Mark Baker)

três vias principais de transmissão: consumo de alimentos contaminados, contato com fluidos corporais humanos ou animais infectados e exposição a gotículas ou aerossóis. O modo usual de transmissão em humanos é pelo consumo de alimentos contaminados que tenham sido expostos a morcegos ou pelo contato direto com animais domésticos infectados, principalmente porcos, provavelmente por meio das membranas mucosas.

Bebidas contaminadas

Uma das fontes mais prováveis de infecção nos surtos que ocorreram em Bangladesh (onde o patógeno foi reconhecido pela primeira vez, em 2001) e na Índia é o consumo de suco de tâmaras, que é popular em vários países asiáticos.

Infelizmente, ela também é muito popular entre os morcegos frugívoros, que sobrevoam as plantações à noite, lambendo a seiva derramada pelas palmeiras, que os habitantes locais coletam em uma tigela presa ao tronco. É provável que esses animais também urinem ou defequem perto da tigela. Todos os dias, no início da manhã, os vendedores locais começam a comercializar o suco fresco e não pasteurizado, causando inadvertidamente um possível surto do vírus Nipah.

Nos onze surtos ocorridos em Bangladesh entre 2001 e 2011, 196 pessoas foram infectadas, das quais 150 morreram. Este ano, de 4 de janeiro a 13 de fevereiro, foram registrados onze casos, incluindo oito mortes em dois distritos de Bangladesh. Isso representa uma taxa de fatalidade de 73%.

No centro das atenções

Atualmente, o vírus Nipah é uma ameaça preocupante e, portanto, foi classificado como um patógeno de Grupo de Risco 4/BSL4, o mais alto disponível.

Além disso, ele foi incluído pela Organização Mundial da Saúde no plano de pesquisa e desenvolvimento que identifica doenças e patógenos que podem causar uma emergência de saúde pública e carecem de tratamentos e vacinas eficazes. Atualmente, esses tratamentos são limitados a cuidados de suporte, incluindo repouso, hidratação e gerenciamento dos sintomas à medida que eles surgem.

Em áreas onde o patógeno está presente e onde houve surtos recentes, as pessoas devem considerar, entre outras, as seguintes medidas preventivas lavar as mãos regularmente com água e sabão; evitar o contato com morcegos ou porcos doentes; evitar áreas onde os morcegos se empoleiram ou estão ativos; evitar o contato com o sangue ou fluidos corporais de qualquer pessoa que possa estar infectada com o vírus ou que tenha tido contato com uma pessoa infectada; e não comer ou beber produtos que possam estar contaminados por morcegos, como seiva de tamareira crua, frutas cruas ou frutas caídas no chão.

Tratamentos e vacinas em desenvolvimento

Felizmente, há tratamentos em desenvolvimento e em avaliação que podem ser úteis no combate às infecções pelo vírus Nipah. Um deles é o anticorpo monoclonal humano M 102.4, que concluiu os testes clínicos de fase 1 e tem sido usado de forma compassiva (excepcionalmente licenciado), pois apresentou resultados positivos.

O medicamento antiviral Remdesivir demonstrou ser eficaz em primatas não humanos quando administrado como profilaxia pós-exposição e pode ser complementar aos tratamentos imunoterápicos.

Várias vacinas também estão em desenvolvimento. Em um estudo com macacos-verdes-africanos, uma vacina baseada no vetor ChAdOx1, o mesmo vetor usado na vacina contra a covid-19 da AstraZeneca, gerou uma forte resposta humoral e celular nos macacos 14 dias após a vacinação inicial.

Além disso, outra vacina experimental contra o vírus Nipah, a mRNA-1215, que é baseada em mRNA, está sendo testada, com boas expectativas, em adultos saudáveis com idades entre 18 e 60 anos.

Por fim, estão em andamento testes com uma vacina de vetor recombinante viva e atenuada para o vírus da estomatite vesicular PHV02. Além disso, o International Centre for Diarrhoeal Disease Research em Bangladesh também está estudando cerca de 50 sobreviventes do vírus Nipah para entender melhor a resposta do corpo ao vírus e apoiar o desenvolvimento de vacinas.

Com as ferramentas atuais, em breve poderemos ter estratégias eficazes para combater o vírus Nipah.

This article was originally published in Spanish

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