O mundo esperou décadas por uma vacina contra a malária. E agora duas surgiram em uma rápida sucessão. No último dia 2 de outubro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que uma nova vacina contra a malária, a R21, desenvolvida pela Universidade de Oxford, fosse lançada para a prevenção da malária em crianças, apenas dois anos depois que outra vacina, a RTS,S, recebeu seu endosso.
Neste episódio do podcast The Conversation Weekly, produzido pela nossa redação na Inglaterra (em inglês), vamos saber por que tem sido tão difícil encontrar uma vacina contra a malária, e ouvir os cientistas que estão por trás da nova R21.
Em 2021, 619.000 pessoas morreram de malária no mundo, a maioria delas crianças. A busca por uma vacina está em andamento há décadas, mas é particularmente difícil devido à complexidade do parasita da malária.
“Ele começa com uma picada de mosquito”, diz Faith Osier, co-diretora do Instituto de Infecção do Imperial College de Londres. “Ele injeta o que chamamos de esporozoíto, um estágio do parasita da malária, que é transportado pela circulação até o fígado e se desenvolve lá”. Cerca de duas semanas depois, os parasitas aparecem no sangue, transformando-se em estruturas diferentes que são difíceis de serem atingidas por uma vacina.
Mas nos últimos anos houve grandes avanços na compreensão dessa dinâmica de contaminação. A vacina RTS,S, desenvolvida pela GSK, já foi administrada em 1,7 milhão de crianças em Gana, Quênia e Malaui desde 2019.
No início de outubro de 2023, a OMS recomendou o uso de uma segunda vacina contra a malária, criada pela Universidade de Oxford, chamada R21, após a publicação de resultados de ensaios clínicos de fase III em crianças na África em uma edição da revista médica The Lancet.
“Estamos observando cerca de 75% de eficácia de nossa vacina”, diz Adrian Hill, diretor do Jenner Institute da Universidade de Oxford, que desenvolveu a nova vacina R21. Isso significa que a vacina pode diminuir “em até 75% o número de episódios clínicos de malária em crianças na África, na comparação com crianças que não foram vacinadas”.
Alassane Dicko, professor do Centro de Pesquisa e Treinamento em Malária da Universidade de Bamako, em Mali, conduziu uma das etapas do estudo de fase III. Ele disse ao The Conversation Weekly, o podcast do The Conversation norte-americano, que em alguns dos grupos mais vulneráveis do estudo - o de bebês entre cinco e 17 meses -, “a eficácia foi de 80%” após 12 meses.
Para fins de comparação, a vacina RTS,S apresentou cerca de 55% de eficácia após 12 meses.
“É ótimo obter maior eficácia, é claro, mas o grande diferencial dessa vacina é como fabricá-la em uma escala realmente necessária para proteger a maioria das crianças que precisam de uma vacina contra a malária na África”, diz Hill.
A Oxford está trabalhando com um parceiro, o Serum Institute of India, que, segundo a empresa, já estabeleceu uma capacidade de produção de 100 milhões de doses por ano. Os volumes maiores também devem manter o custo de cada dose relativamente baixo.
Para saber mais sobre a vacina e o que ela significa sobre o potencial de erradicação total da malária, ouça o episódio completo (em inglês) no podcast The Conversation Weekly.
O episódio deste podcast do The Conversation dos Estados Unidos foi escrito e produzido por Katie Flood, com a ajuda de Gemma Ware e Mend Mariwany. Eloise Stevens fez o design de som e a música-tema é de Neeta Sarl.