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Uma caixa de comprimidos com o rótulo escrito "placebo"

Seis coisas boas e surpreendentes sobre placebos que todos deveriam saber

Os placebos foram mais estudados do que qualquer outro tratamento na história da medicina, mas continuam sendo misteriosos para muitas pessoas.

Venho estudando placebos há 20 anos e realizei alguns dos principais estudos que fizeram avançar o conhecimento científico nessa área. Aqui estão seis fatos sobre esse estranho efeito que ainda me fascinam.

1. Os placebos têm um primo obscuro: os nocebos

Um construtor de 29 anos foi para o hospital depois de ter pisado em um prego de 15 cm que perfurou sua bota. A remoção do prego foi tão dolorosa que ele teve de ser sedado com drogas poderosas (fentanil e midazolam) para removê-lo. Mas quando ele tirou a bota, os médicos descobriram que o prego tinha ido parar entre os dedos do pé. A dor do construtor foi causada pela crença errônea de que o prego havia penetrado em seu pé.

Os efeitos prejudiciais das expectativas negativas são chamados de efeitos nocebo. Por motivos evolutivos (a sobrevivência depende de evitar o perigo), os efeitos nocebo são maiores do que os efeitos placebo.

Infelizmente, os pacientes geralmente são informados mais sobre as coisas ruins que podem acontecer do que sobre as coisas boas, o que pode resultar em uma profecia autorrealizável. Por exemplo, saber que um medicamento tem um possível efeito colateral de náusea ou dor pode, na verdade, causar náusea ou dor.

Um construtor prestes a pisar em um prego
O efeito nocebo é muito mais forte do que o efeito placebo. Gustavo MS_Photography/Shutterstock

2. Os placebos funcionam mesmo que as pessoas saibam que são placebos

Outro caso: Linda Buonanno sofria tanto da síndrome do intestino irritável que muitas vezes não conseguia sair de casa por semanas. Ela se inscreveu em um estudo de placebos “honestos” (de rótulos abertos), que é um placebo que os pacientes sabem que é um placebo.

Os médicos de Harvard que participaram do estudo disseram a ela que as pílulas eram “pílulas de placebo feitas de uma substância inerte, como pílulas de açúcar, que demonstraram em estudos clínicos produzir uma melhora significativa nos sintomas do intestino irritável por meio de processos de autocura do corpo pela mente”.

Os placebos honestos funcionaram tão bem que ela conseguiu retomar uma vida normal.

Os placebos honestos funcionaram em outros estudos para o tratamento de depressão, dor nas costas e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).

Os placebos honestos funcionam devido às nossas expectativas subconscientes. Nossas experiências passadas com médicos e hospitais podem gerar expectativas subconscientes que ativam a farmácia interna do nosso corpo, que produz endorfinas e outras drogas benéficas.

3. Placebos honestos são eticamente aceitáveis

Geralmente, os médicos consideram antiético dar placebos aos pacientes porque isso supostamente envolve mentir (dizer aos pacientes que uma pílula de açúcar é um medicamento potente). Mas os placebos honestos não envolvem mentira, portanto não há barreira ética.

Em um estudo em andamento este ano, médicos perguntaram a pacientes prestes a submeterem-se a cirurgias se eles estariam dispostos a experimentar uma mistura de analgésicos reais e placebos honestos. Os pacientes desse estudo estão tendo o mesmo nível de alívio da dor após a cirurgia do que os que só tomaram remédios de verdade. Mas com uma vantagem: por causa disso, têm menos probabilidade de se tornarem dependentes de analgésicos.

4. Os efeitos do placebo fazem parte da maioria dos efeitos do tratamento

Quando um médico prescreve ibuprofeno para dor nas costas, os efeitos são devidos ao ibuprofeno e às crenças e expectativas do paciente, que podem ser influenciadas pela comunicação do médico. Os médicos que oferecem mensagens positivas de maneira calorosa e empática aumentarão o efeito dos medicamentos.

O tamanho e a cor do comprimido também podem influenciar o efeito. Um comprimido grande e laranja pode reduzir a dor mais do que um comprimido pequeno e vermelho.

O dever ético dos médicos de beneficiar os pacientes sugere que é uma obrigação levar a sério e maximizar os efeitos placebo de todos os tratamentos que eles oferecem.

5. Você não precisa de placebos para ter efeitos placebo

Em um estudo recente, pacientes pós-cirúrgicos receberam morfina por via intravenosa após a operação. No entanto, apenas metade dos pacientes foi informada de que estava recebendo morfina. Os pacientes que foram informados tiveram 50% mais alívio da dor do que aqueles que não foram informados de que estavam recebendo morfina. Esse é um exemplo de um efeito placebo sem placebo.

6. Você pode gerar efeitos placebo (e nocebo) em si mesmo

Toda comunicação pode ter um efeito benéfico ou prejudicial. Um outro estudo importante descobriu que ensinar habilidades de comunicação às famílias reduziu a ansiedade e a depressão. Por outro lado, um pesquisa parecida demonstrou que os casais que se debruçam sobre problemas e aspectos negativos de seus relacionamentos têm sistemas imunológicos mais fracos.

Atos de altruísmo, foco em um futuro melhor ou gratidão são maneiras comprovadas de reduzir o efeito da comunicação negativa de um problema de saúde. Uma maneira fácil de gerar efeitos positivos de placebo para si mesmo é realizar um ato aleatório de bondade, como preparar uma xícara de chá para um colega ou simplesmente sorrir e dizer olá.

Você pode saber mais sobre os efeitos surpreendentes dos placebos e nocebos em meu livro mais recente, “The Power of Placebos: How the Science of Placebos and Nocebos can Improve Health Care” (O poder dos placebos: como a ciência dos placebos e nocebos pode melhorar a assistência médica). O livro ainda não tem edição em português.

This article was originally published in English

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