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Seminários FINEP: Como a principal empresa brasileira de petróleo está se posicionando na transição para a energia de baixo carbono

Turbinas eólicas em construção em parceria com o Senai, no litoral do Rio Grande do Norte: volume de investimentos da Petrobras em baixo carbono subiu de US$ 4,4 bilhões para US$ 11,5 bilhões entre o último quadriênio e o que se inicia agora em 2024. Divulgação / Senai, CC BY

O tema do artigo abaixo é um dos assuntos que estão sendo tratados nos seminários temáticos “Neoindustrialização em novas bases e apoio à inovação nas empresas”, organizados pela FINEP, cuja terceira rodada de debates ocorre na sede da organização nesta terça-feira, 23 de janeiro, com transmissão online. Os debates fazem parte das preparações para a Quinta Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Industrialização, que ocorrerá de 4 a 6 de junho deste ano, sob a coordenação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. A iniciativa conta com o apoio da Abipti, CNI, MEI, BNDES e CNDI. As inscrições para assistir ao seminário podem ser feitas pelo email cp_vcncti.neoindustrializacao@finep.gov.br.


Os impactos das mudanças climáticas são um dos principais desafios enfrentados pela humanidade e exigem ações urgentes e coordenadas para garantir um planeta habitável para as gerações presentes e futuras. Nesse sentido, a sociedade precisa atuar em várias frentes, reduzindo as emissões de CO2 e de outros gases de efeito estufa em operações e produtos, além de investir em outras fontes de energia e em ações de aumento da eficiência energética.

No Brasil, a relevância das discussões sobre o tema pode ser percebida a partir da intensidade das discussões regulatórias que têm composto a agenda legislativa, levando para destaque discussões detalhadas sobre temas como as eólicas offshore, as tecnologias de captura de armazenagem de carbono, o hidrogênio de baixo carbono, os biocombustíveis e a regulação dos mercados de carbono no país.

No âmbito do planejamento governamental, o tema da neoindustrialização é agenda prioritária no Plano Plurianual 24-27, o principal instrumento de planejamento de médio prazo do governo federal. O PPA orienta, de forma concreta, as escolhas do governo, que se traduzem em programas e no orçamento definido para os próximos quatro anos.

O processo de neoindustrialização pode ser compreendido como uma maneira de recolocar o país no trilho da industrialização, de acordo com suas necessidades estratégicas, tendo como pilares a sustentabilidade ambiental, a geração de emprego e renda e o desenvolvimento tecnológico de ponta.

Neste sentido, o Brasil, que já possui uma matriz energética com menores níveis de emissões em relação às principais economias do planeta. Especialmente na geração de eletricidade, o país apresenta um enorme potencial para alavancar o processo de neoindustrialização a partir do atendimento das demandas da transição energética.

Temos aqui fatores que são dificilmente encontrados simultaneamente no cenário internacional:

1) Potencial diversificado e distribuído geograficamente, entre eólicas em terra, energia fotovoltaica, eólicas offshore e biomassa;

2) Um sistema elétrico concebido e planejado de forma integrada, que viabiliza enfrentar os fatores sazonais típicos da geração renovável;

3) Um mercado interno relevante, não somente para energia renovável, mas também para toda a gama de produtos dali derivados;

4) Uma base industrial e de fornecedores robusta e competitiva, com capacidades tecnológicas que, a título exemplificativo, cobrem desde o suprimento de minerais críticos até aspectos de construção e montagem de eólicas offshore.

Assim, é muito claro que os fatores de competitividade da economia de baixo carbono intrínsecos ao Brasil, se agregados a um viés de desenvolvimento tecnológico e cadeias de inovação, poderão ser a alavanca de um grande processo de retomada de industrialização.

Nesse contexto de neoindustralização com transição energética, a Petrobras, principal empresa de petróleo do país, precisa ter um papel de protagonista.

Até o momento, a empresa já avançou em ações concretas, com a criação da Diretoria de Transição Energética e Sustentabilidade, a revisão dos elementos estratégicos para o Plano Estratégico e a publicação de um Plano Estratégico que contempla iniciativas e projetos de descarbonização de suas operações.

E houve também o amadurecimento dos negócios no segmento de energias de baixo carbono. O volume de investimentos em baixo carbono da Petrobras nessa área apresentou uma forte expansão no Plano Estratégico 2024-2028 em relação ao Plano Estratégico anterior, saindo de US$ 4,4 bilhões para US$ 11,5 bilhões.

Destes, cerca de US$ 7 bilhões foram destinados a estudos e negócios no segmento de energias de baixo carbono, com destaque para geração solar, eólica, biorrefino, captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS) e o hidrogênio, e o valor restante em iniciativas de eficiência energética e descarbonização das operações.

Fronteira Offshore

Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o potencial eólico offshore brasileiro, até 50m de profundidade, chega a 700 GW, equivalente em energia a uma produção de 6 milhões de barris de óleo/dia.

Os investimentos da Petrobras neste segmento iniciaram há dez anos, com a implementação de medições eólicas em plataformas fixas na costa do Nordeste. Ao longo desse período, com a coordenação do seu Centro de Pesquisas, o CENPES, a empresa vem estabelecendo parcerias com centros de pesquisa e universidades, permitindo consolidar conhecimento internamente e no setor acadêmico.

Com a UFRN, avaliou-se a infraestrutura logística na cadeia de suprimentos para atender ao mercado de eólica offshore, com o desenvolvimento de modelo que considera todo o ciclo de vida do projeto.

Na Coppe (UFRJ) avaliou-se os tipos de fundação para aerogeradores offshore e requisitos de adequação às condições brasileiras e custos associados aos diferentes conceitos.

Já com o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (CEPEL) do Governo Federal, e com a Universidade Federal de Juiz de Fora, a Petrobras estudou conexões dos parques eólicos offshore ao Sistema Interligado Nacional, além da interligação elétrica dos aerogeradores. Da mesma forma, com o Instituto SENAI de Inovação do Rio Grande do Norte, aprofundou a avaliação do recurso eólico offshore e desenvolveu um software para integrar todas as soluções e permitir a concepção de um projeto eólico offshore.

Em parceria com a Universidade Federal do Ceará a companhia conduz estudos sobre solos calcários no assoalho marinho da região Nordeste, além da ferramenta de otimização da concepção do projeto e da construção de parques eólicos offshore em conjunto com o Centro de Inovação LACTEC.

Ha ainda estudos para viabilizar um sistema eólico offshore flutuante em águas ultraprofundas, em parceria com a USP e a COPPE/UFRJ, com diversas aplicações às atividades de petróleo e gás, o que pode reduzir significativamente as emissões de gases de efeito estufa ao reduzir o uso de gás associado em turbinas a gás e desbloquear potenciais receitas adicionais de processamento submarino com restrições de fornecimento de energia.

Captura, Utilização e Armazenamento de CO2

Para a descarbonização das suas próprias operações - e para oferecer a segmentos específicos uma opção tecnológica para a descarbonização - a empresa investe também em estudos de projetos de captura, uso e armazenamento geológico de CO2. Nos campos do Pré-sal, já se trata da maior operação mundial em termos de volume reinjetado anual de CO2.

Essa nova tecnologia nos campos de produção de petróleo e gás, conhecida como CCUS, engloba a separação do CO2 e do gás natural, seguida da reinjeção do CO2 de volta ao reservatório de origem, onde fica armazenado. Essa iniciativa permite à empresa produzir petróleo com menores emissão de carbono nos campos do Pré-sal e se destaca por trazer várias inovações tecnológicas, como a primeira separação de CO2 associado ao gás natural em águas ultra profundas, o poço de injeção de gás CO2 mais profundo (com lâmina d'água de 2.200 metros) e o primeiro uso do método alternado de injeção de água e gás em águas ultra profundas.

A experiência adquirida em campos produtores e as iniciativas de pesquisa contribuem para a evolução tecnológica e redução de custos, capacitando a Petrobras a identificar, avaliar e desenvolver novas oportunidades associadas ao CCUS, que tem potencial a agregar valor e competitividade a segmentos industriais importantes do Brasil, como a indústria cimenteira e siderúrgica.

Biorrefino

No segmento de combustíveis, o Programa Biorrefino é um trunfo inquestionável na estratégia de descarbonização da empresa. Para tanto, iniciativas com estudos de diferentes tecnologias desenvolvidas pelo CENPES, em parceria com outras instituições de pesquisa, avançam rápido e indicam uma crescente utilização de insumos renováveis para a produção em infraestruturas e sistemas logísticos já existentes.

A companhia está implementando sistemas de coprocessamento em algumas de suas refinarias, uma tecnologia capaz de converter óleos e gorduras em diesel com conteúdo renovável, o chamado Diesel R, que pode ser comercializado com diferentes volumes de parcela renovável, tendo sido produzidos 15 milhões de litros de diesel R5, com 5% de conteúdo renovável, em 2023.

Avançou-se em projetos de duas unidades dedicadas à produção de diesel renovável e BioQav em duas refinarias, num processo que resulta em um produto 100% renovável, mas com características idênticas aos combustíveis de origem fóssil. Essa inovação, se usada em larga escala, viabilizará a descarbonização de segmentos de transporte sem qualquer necessidade de adaptações em sistemas de armazenamento, logística e motores.

Hidrogênio

No segmento do hidrogênio de baixo carbono, estão em estudo projetos de hidrogênio verde associados a projetos de geração de energia renovável e projetos de hidrogênio azul, que poderão beneficiar segmentos de difícil descarbonização, como o transporte aéreo, o transporte marítimo e a indústria siderúrgica.

A cadeia de valor do hidrogênio é ampla e promissora, envolvendo demandas significativas de energia renovável, plantas industriais para a produção dos derivados de hidrogênio e cadeias logísticas de transporte.

Conclusão

Assim, em todos os segmentos, a integração de áreas de P&D com áreas de projetos, áreas de estruturação de negócios e as áreas comerciais será fundamental para que os projetos em análise se tornem realidade, e possam transformar a maior empresa de petróleo do Brasil numa liderança no setor de energia de baixo carbono, e se tornar um agente catalisador no processo de neoindustrialização do Brasil.

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