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ilustração de um asteroide no espaço com parte do globo terrestre ao fundo
Ilustração do asteroide Apophis em sua aproximação com a Terra: evento, que será visível a olho nu, é uma oportunidade científica e uma experiência única na vida para quem puder observá-lo, e deverá marcar uma nova era na defesa planetária. Dima Zel / Shutterstock

Comunidade científica se prepara para passagem do asteroide Apophis pela Terra em 2029

Estamos a apenas cinco anos de um evento astronômico que pode ficar gravado na memória coletiva da Humanidade. Trata-se da passagem próximo da Terra do asteroide Apophis. Embora já saibamos que não será perigoso, podemos dizer que é assustador se pensarmos bem nisso.

Há décadas os olhos da comunidade astronômica estão voltados para o encontro da Terra com o asteroide, catalogado como 99942 Apophis, um corpo rochoso com cerca de 340 metros de diâmetro. Embora o perigo de um impacto direto com a Terra tenha sido descartado, o encontro ainda é de grande interesse científico. O motivo é que esse asteroide estará a apenas cerca de 32 mil km da superfície do nosso planeta em 13 de abril de 2029,.

Trajetória orbital do asteroide 99942 Apophis à medida que ele passará pela Terra em 13 de abril de 2029. A gravidade da Terra mudará ligeiramente a trajetória do Apophis quando ele se aproximar a apenas 32 mil km da superfície de nosso planeta. NASA/JPL-Caltech

Embora não esteja atualmente na lista de encontros próximos de asteroides potencialmente perigosos do programa Sentry (Sentinela) da NASA, o Apophis ficará a menos de um décimo da distância da Terra até a Lua. E, para os supersticiosos, ocorrerá numa sexta-feira 13.

Em sua maior aproximação da Terra, o asteroide será perfeitamente visível a olho nu. O brilho do objeto errante atingirá uma magnitude de +3, a mesma de algumas das estrelas da constelação de Cassiopeia ou das estrelas do famoso cinturão da constelação de Órion (também conhecidas pelo asterismo “Três Marias” no Brasil). E, apesar de sua aparência “estelar”, será impressionante vê-lo se movendo no céu a uma velocidade aparente de aproximadamente o diâmetro da Lua por minuto.

As imagens do asteroide Apophis obtidas até o momento são, como esta sequência de 2021, meros ecos recebidos pelas antenas de rádio Goldstone da Deep Space Network na Califórnia e Green Bank na Virgínia. O asteroide estava a 17 milhões de quilômetros de distância. NASA/JPL-Caltech and NSF/AUI/GBO

Uma missão reconfigurada da NASA

A missão Osiris-REx da NASA continua operacional depois de visitar e coletar amostras do asteroide Bennu. Devido a seus recursos, ela foi reconfigurada para se aproximar do Apophis e renomeada Osiris-APEX.

Essa nova missão espacial tem como objetivo medir as forças de maré que gravidade da Terra vai exercer em um asteroide potencialmente perigoso para o planeta, e também obterá imagens ao vivo, nunca antes vistas, da superfície de um asteroide com o nosso planeta ao fundo. A NASA fornecerá a fotografia ao mesmo tempo em que poderemos sair para fora de casa e ver o asteroide acima de nossas cabeças. Não será necessário usar telescópios ou binóculos. Provavelmente mais de 2 bilhões de pessoas na Europa Ocidental e no norte da África testemunharão o próximo encontro com o Apophis, numa experiência única na vida.

ESA avalia lançar a missão RAMSES

No momento em que este artigo foi escrito, a Agência Espacial Europeia (ESA) também está avaliando lançar a missão RAMSES para visitar o Apophis antes, durante e depois do encontro do asteroide com a Terra. A missão, proposta no Programa de Segurança Espacial da ESA, usaria a mesma plataforma planejada para a espaçonave Hera e embarcaria vários satélites do tipo CubeSat para medições de proximidade.

Para se encontrar com Apophis antes de abril de 2029, a sonda RAMSES teria que ser lançada em breve. As duas configurações possíveis são o lançamento em abril de 2027 e a realização de um sobrevoo da Terra em abril de 2028 para se posicionar em sua trajetória de encontro, ou a realização de uma transferência orbital direta de 11 meses, mais cara e complexa, no mesmo abril de 2028.

Se o conselho diretor da ESA der o aval à missão, a solução técnica mais eficiente para reduzir os custos e permitir uma implementação rápida será decidida em 2025.

A priori, a missão RAMSES poderia encontrar o Apophis dois meses antes de sua maior aproximação da Terra e conduzir uma campanha de caracterização do asteroide antes e depois do encontro.

Há uma grande curiosidade em saber se o Apophis também é uma pilha de detritos como Bennu e se a fisionomia e a estrutura do asteroide poderiam ser afetadas por forças gravitacionais de maré.

O próximo asteroide pode não mandar aviso

Com a experiência das missões DART e Hera, o uso de pequenos satélites ou CubeSats para a coleta de dados de proximidade está ganhando impulso.

Foi proposto que a RAMSES embarcaria pelo menos dois CubeSats de seis unidades cúbicas cada, que seriam lançados nas proximidades de Apophis antes do encontro próximo com a Terra. Nos ambientes escolhidos, eles operariam de forma independente, usando o RAMSES como um satélite retransmissor dos dados. Os instrumentos incluiriam uma câmera infravermelha térmica, um altímetro a laser, um radar de baixa frequência, detectores de poeira, sismômetros, penetrômetros, microscópios, radiômetros, retrorrefletores a laser, etc. Ainda não há uma decisão final sobre a missão, mas torná-la realizá-la a tempo para o encontro do Apophis com a Terra demonstraria que há maneiras de colocar missões deste tipo em andamento rapidamente. Afinal de contas, talvez o próximo asteroide não mande aviso.

Não se trata de um capricho aprender mais sobre a natureza e a estrutura do Apophis. Embora possamos dizer que ele não representa um risco nas próximas aproximações, pelo menos por um século, no futuro pode ser mais complicado.

O encontro com o asteroide Apophis é uma oportunidade única no milênio. Um evento midiático que pode ser muito útil para a ciência, a defesa planetária e a divulgação científica. Além disso, a missão OSIRIS-APEX seria uma esperança para o aumento da cooperação internacional que precisamos para responder aos desafios que a Humanidade enfrenta.

This article was originally published in Spanish

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