Menu Close
Um relógio em uma mesa cercada por alimentos frescos
O jejum intermitente ganhou popularidade nos últimos anos como uma abordagem de dieta com possíveis benefícios à saúde no curto prazo, mas estudo observacional pode ter encontrado problemas de longo prazo Food Photo Master/Shutterstock

Estudo sugere que jejum intermitente eleva risco de morte por doença cardíaca, mas ainda há dúvidas sobre resultados

O jejum intermitente ganhou popularidade nos últimos anos como uma abordagem de dieta com possíveis benefícios à saúde. Portanto, talvez você tenha ficado surpreso ao ver manchetes na semana passada sugerindo que a prática poderia aumentar o risco de morte por doença cardíaca.

As notícias foram baseadas em pesquisa recente que descobriu uma ligação entre a alimentação com restrição de tempo, uma forma de jejum intermitente, e um risco maior de morte por doença cardiovascular ou doença cardíaca.

Então, o que podemos concluir dessas descobertas? E como este estudo se compara com o que sabemos sobre jejum intermitente e doenças cardíacas?

O estudo em questão

A pesquisa foi apresentada como um pôster científico em uma conferência da American Heart Association (AHA) na semana passada. O estudo completo ainda não foi publicado em um periódico revisado por pares.

Os pesquisadores usaram dados da National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES), uma pesquisa de longa duração que coleta informações de um grande número de pessoas nos Estados Unidos.

Esse tipo de estudo, conhecido como observacional, envolve a análise de grandes grupos de pessoas para identificar relações entre fatores de estilo de vida e doenças. O estudo abrangeu um período de 15 anos.

O estudo mostrou que as pessoas que faziam todas suas refeições em um intervalo de oito horas tinham um risco 91% maior de morrer de doenças cardíacas em comparação com aquelas que faziam suas refeições em um intervalo de 12 a 16 horas. Quando analisamos os dados mais detalhadamente, eles sugerem que 7,5% das pessoas que comeram em um intervalo de oito horas morreram de doenças cardíacas durante o estudo, em comparação com 3,6% das pessoas que comeram entre 12 e 16 horas.

Não sabemos se os autores controlaram outros fatores que podem influenciar a saúde, como peso corporal, uso de medicamentos ou qualidade da dieta. É provável que algumas dessas perguntas sejam respondidas quando os detalhes completos do estudo forem publicados.

Também vale a pena observar que os participantes podem ter se alimentado durante uma janela mais curta por uma série de razões - não necessariamente porque estavam intencionalmente seguindo uma dieta com restrição de tempo. Por exemplo, eles podem ter tido pouco apetite devido a uma doença, o que também pode ter influenciado os resultados.

Outras pesquisas

Embora essa pesquisa possa ter várias limitações, suas descobertas não são exclusivas. Elas se alinham com vários outros estudos publicados usando o conjunto de dados do NHANES.

Por exemplo, um estudo mostrou que comer em um período mais longo reduziu o risco de morte por doença cardíaca em 64% em pessoas com insuficiência cardíaca.

Outro estudo em pessoas com diabetes mostrou que aqueles que comiam com menos espaçamento de tempo entre as refeições tinham um risco menor de morte por doença cardíaca.

Um estudo recente descobriu que um jejum noturno inferior a dez horas e superior a 14 horas aumentava o risco de morte por doença cardíaca. Isso sugere que um jejum muito curto também pode ser um problema.

O jejum intermitente é saudável?

Há resultados conflitantes sobre jejum intermitente na literatura científica, em parte devido aos diferentes tipos de jejum intermitente.

Há o jejum com restrição de tempo, que limita a alimentação a um período de tempo por dia, e que foi analisado no estudo atual. Há também diferentes padrões de dias de jejum e de alimentação, como a conhecida dieta 5:2, em que nos dias de jejum as pessoas geralmente consomem cerca de 25% de suas necessidades energéticas, enquanto nos dias de alimentação não há restrição na ingestão de alimentos.

Apesar desses diferentes padrões de jejum, revisões sistemáticas de ensaios clínicos randomizados (ECRs) demonstram consistentemente benefícios do jejum intermitente em termos de perda de peso e fatores de risco de doenças cardíacas (por exemplo, pressão arterial e níveis de colesterol).

Os ECRs indicam que o jejum intermitente produz melhorias comparáveis nessas áreas em relação a outras intervenções na dieta, como a restrição energética moderada diária.

Um grupo de pessoas comendo ao redor de uma mesa.
Há várias dietas envolvendo a ideia de jejum intermitente. Fauxels/Pexels

Por que resultados tão diferentes?

Ensaios clínicos comparam diretamente duas condições, como jejum intermitente versus restrição energética diária, e controlam uma série de fatores que podem afetar os resultados. Portanto, eles oferecem percepções sobre as relações causais que não podem ser obtidas somente por meio de estudos observacionais.

Entretanto, eles geralmente se concentram em grupos específicos e em resultados de curto prazo. Em média, esses estudos acompanham os participantes por cerca de 12 meses, deixando os efeitos de longo prazo desconhecidos.

Embora estudos observacionais forneçam informações valiosas sobre tendências em nível populacional durante períodos mais longos, eles se baseiam no autorrelato e não podem demonstrar causa e efeito.

Confiar nas pessoas para que relatem com precisão seus próprios hábitos alimentares é complicado, pois elas podem ter dificuldade para lembrar o quê e quando comeram. Esse é um problema de longa data em estudos observacionais, e faz com que depender apenas desses tipos de estudos para nos ajudar a entender a relação entre dieta e doença seja um desafio.

É provável que a relação entre horários de alimentação e saúde seja mais complexa do que simplesmente comer mais ou menos regularmente. Nossos corpos são controlados por um grupo de relógios internos (nosso ritmo circadiano) e, quando nosso comportamento não se alinha com esses relógios, como quando comemos em horários incomuns, nossos corpos podem ter problemas para administrar isso.

Então, o jejum intermitente é seguro?

Não há uma resposta simples para essa pergunta. Os ensaios clínicos randomizados mostraram que ele parece ser uma opção segura para a perda de peso em curto prazo.

Entretanto, as pessoas do conjunto de dados NHANES que comem em um período limitado do dia parecem ter um risco maior de morrer de doenças cardíacas. É claro que muitos outros fatores podem estar fazendo com que elas comam dessa forma e influenciem os resultados.

Quando confrontados com dados conflitantes, os cientistas geralmente concordam que os ensaios clínicos fornecem um nível mais alto de evidência. Há muitas incógnitas para aceitar as conclusões de um estudo epidemiológico como esse sem fazer perguntas. Não é de surpreender que ele tenha sido alvo de críticas.

Dito isso, para entender melhor a segurança a longo prazo do jejum intermitente, precisamos acompanhar os indivíduos nesses ensaios clínicos por cinco ou dez anos.

Enquanto isso, se você estiver interessado em experimentar o jejum intermitente, converse primeiro com um profissional de saúde.

This article was originally published in English

Want to write?

Write an article and join a growing community of more than 182,600 academics and researchers from 4,945 institutions.

Register now