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Ilustração de um rosto com expressão de êxtase
Clímax da relação sexual, o orgasmo envolve a ativação e desativação de regiões do cérebro pela ação de neurotransmissores como se fossem os instrumentos na apresentação de uma orquestra agsandrew / Shutterstock

Orgasmo: uma sinfonia cerebral perfeitamente orquestrada

“Vou querer o mesmo que ela”, diz Estelle Reiner ao garçom enquanto aponta para Meg Ryan, que acabou de fingir um orgasmo no restaurante onde se encontram. Essa famosa cena de When Harry Met Sally (1989) é, sem dúvida, o orgasmo mais conhecido da história do cinema.

Orgasmo. Já ouvimos, lemos ou pronunciamos essa palavra em várias ocasiões sem, certamente, parar para pensar no que ela significa. Sua origem está na palavra grega orgasmos, que por sua vez deriva de orgé (“temperamento”, “raiva”, “fúria”) e o sufixo -asmos, que dá a ideia de “resultado abrupto”, “golpe”. Um orgasmo é o ponto culminante intenso e prazeroso da excitação sexual, caracterizado por contrações rítmicas dos músculos do assoalho pélvico, acompanhadas de intenso prazer e seguidas por uma sensação de relaxamento e satisfação.

O sistema nervoso no controle

Mas e se definirmos o orgasmo de uma forma mais técnica? Então diríamos que é a intensidade máxima de excitação gerada pela estimulação aferente e eferente de receptores sensoriais viscerais e/ou somáticos ativados de forma exógena e/ou endógena, associada ao surgimento de processos cognitivos de ordem superior, seguida de uma liberação e resolução (diminuição) da excitação.

Isso soa como um jargão, mas provavelmente nos aproxima do verdadeiro arquiteto dessa sinfonia de atividade neural: o sistema nervoso. O orgasmo é um evento complexo que envolve uma interação sinérgica entre o corpo e a mente. E que melhor condutor para interpretá-lo do que nosso sistema nervoso?

Não é de surpreender que estudos sobre o assunto usando ressonância magnética funcional mostrem que, para atingir o orgasmo, é necessário ativar várias estruturas nervosas, o que produz uma tempestade simpática hiperativa. Ou seja, um estado em que o sistema nervoso simpático - aquele que controla as ações involuntárias do corpo, como a respiração ou os batimentos cardíacos - apresenta atividade excessiva. Esse frenesi causa alterações fisiológicas no corpo, como aumento da frequência cardíaca, da pressão arterial ou da respiração (que se torna mais rápida e profunda).

É assim que soa a orquestra do cérebro

Mas a sinfonia não termina aqui. Além dessa resposta periférica, há uma ativação central que envolve várias regiões do cérebro. É hora de conhecer seus protagonistas.

  • O córtex sensorial é responsável pelo processamento de informações táteis e sensoriais, como a estimulação do clitóris, colo do útero ou vagina. Durante o orgasmo, essa região do cérebro é ativada, respondendo à estimulação prazerosa que recebe.

  • As contrações rítmicas que caracterizam o orgasmo são o resultado da ativação do córtex motor, que é responsável pela coordenação da resposta muscular que acompanha o clímax sexual. É como se o cérebro dirigisse uma sucessão de movimentos que terminam em um crescendo de prazer.

  • Estudos científicos demonstraram que o córtex visual também se ilumina durante o orgasmo, sugerindo que, durante o clímax, há maior atenção às superfícies corporais estimuladas e às imagens visuais.

  • Embora todos os instrumentos sejam importantes em uma orquestra, a verdadeira estrela cerebral dessa peça é o sistema límbico, o centro das emoções e da recompensa. É aqui que toda a musicalidade do pico sexual é liberada. Uma das principais estruturas límbicas envolvidas é o hipotálamo, que coordena a liberação de hormônios sexuais e neurotransmissores fundamentais para o processo de excitação sexual e o desenvolvimento do orgasmo.

  • Continuando com a música, a amígdala surge como um personagem de destaque. Essa estrutura cerebral é especializada no processamento de emoções, inclusive aquelas associadas à sexualidade, como excitação e prazer. Durante o orgasmo, a amígdala experimenta um aumento na atividade, o que contribui para intensificar nossa resposta emocional e a sensação de prazer.

  • O hipocampo, conhecido por seu papel na memória e no aprendizado, também tem seu lugar nessa orquestra neural. Ele é responsável por codificar e consolidar experiências sexuais prazerosas. Isso significa que o sistema límbico pode influenciar a forma como nos lembramos e processamos nossas experiências sexuais, inclusive os orgasmos. Esses processos podem condicionar nossas futuras respostas emocionais e comportamentos sexuais.

  • Por fim, outras estruturas cerebrais, como o cerebelo e sua projeção para o segmento pontino, estão envolvidas nos componentes cardiovascular e motor do orgasmo. Foi demonstrado que a ativação da área pontina ventrolateral em mulheres produz as contrações do assoalho pélvico que são (pelo menos em parte) responsáveis pelo orgasmo físico. Nos homens, é essa área que gera as contrações do assoalho pélvico responsáveis pela ejaculação.

Avalanche de neurotransmissores

Em última análise, tudo se resume aos neurotransmissores, aqueles mensageiros químicos que criam uma onda de sensações prazerosas que invade o cérebro. Vamos dar uma olhada na função deles.

  • Dopamina, conhecida como o neurotransmissor do prazer e da felicidade, atinge níveis máximos durante o orgasmo, criando uma sensação de êxtase e recompensa.

  • Muitas vezes chamada de “hormônio do amor”, a oxitocina também é liberada em grandes quantidades, promovendo a ligação emocional e a intimidade entre os parceiros sexuais. É como se o cérebro estivesse programado para fortalecer o vínculo durante esse momento, promovendo maior conexão entre os parceiros.

  • Durante o orgasmo, o cérebro também secreta serotonina, uma substância relacionada à regulação do humor e ao bem-estar emocional. Isso contribui para uma sensação de satisfação e felicidade, o que nos leva a entender que o orgasmo não é apenas um evento físico, mas também mental.

Um apagão saudável

Nesse contexto, a experiência emocional e fenomenológica do orgasmo tem sido associada à desativação de determinadas áreas do cérebro, como o córtex pré-frontal, temporal e entorrinal. Isso é interpretado como um aumento da percepção da experiência prazerosa e da sensação de saciedade que acompanha o clímax sensorial.

À luz de todas as pesquisas, talvez não esteja claro se é o cérebro que controla o orgasmo ou se é o contrário. De fato, alguns estudos mostram que muitas áreas são desativadas no exato momento do clímax sexual, sugerindo que o cérebro praticamente “desliga”, com exceção do tronco cerebral - responsável pela atividade cardiovascular - e do cerebelo - responsável pelo movimento.

O que está comprovado é que o orgasmo pode ter efeitos benéficos para a saúde: alivia o estresse, melhora o humor e fortalece o sistema imune. Além disso, a liberação de endorfinas e outras substâncias químicas pode ter propriedades analgésicas e anti-inflamatórias, aliviando a dor e promovendo uma sensação geral de bem-estar.

Depois de ler este artigo, tenho certeza de que você concordará com Estelle Reiner e também fará o mesmo que Meg Ryan.

This article was originally published in Spanish

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