Menu Close
A presença ou ausência de insetos em um ambiente aquático pode fornecer informações sobre a qualidade da água e a saúde geral do ecossistema, e permite a detecção precoce de problemas ambientais e impactos negativos das atividades humanas na região. Laboratório de Ecologia e Conservação (LABECO) UFPA

A importância dos insetos aquáticos como indicadores da qualidade da água na Amazônia

A água é um recurso vital para nossa sobrevivência, uma vez que a maior parte do nosso corpo é composta por água e muitas de nossas atividades e necessidades diárias dependem do acesso à água potável. Estudos recentes estimam que a disponibilidade desse recurso está diminuindo rapidamente, e isto significa que, em um futuro próximo, as desigualdades sociais podem ser agravadas no Brasil e no mundo.

A qualidade da água nos sistemas naturais está diretamente relacionada à biodiversidade e às atividades que ocorrem no seu entorno. Os ecossistemas aquáticos como os rios, lagos, pântanos e córregos, abrigam uma riqueza de organismos, que muitas vezes por serem pequenos, podem passar despercebidos. Nesses ecossistemas, os insetos aquáticos aparecem como protagonistas não reconhecidos, desempenhando um papel crucial na saúde desses ambientes.

Características dos insetos aquáticos

Esses insetos são classificados como aquáticos porque apresentam pelo menos uma fase do seu ciclo de vida ligada ao meio aquático (ovo, larva, ‘casulo’ ou adulto). A maioria possui fase larval estritamente aquática, e na fase adulta, podem habitar tanto ambientes aquáticos, quanto terrestres, mas permanecendo próximos dos ambientes aquáticos.

Insetos aquáticos contribuem para o equilíbrio ecológico de ecossistemas aquáticos brasileiros e globais. Laboratório de Ecologia e Conservação (LABECO) UFPA

Esses insetos desempenham múltiplas funções nos ecossistemas aquáticos brasileiros e globais, contribuindo para o equilíbrio ecológico. Por exemplo, as larvas de efêmera (nome popular para a Ephemeroptera), e de João Pedreiro (Thichoptera) são detritívoros, ou seja, alimentam-se de restos orgânicos como folhas e galhos da vegetação aquática ou marginal, o que contribui para a ciclagem de nutrientes. As moscas de pedra (nome popular para a Plecoptera) são predadores, e atuam como controladores de outras populações.

Outros insetos como as Libélulas (Odonata) e os Percevejos Aquáticos (Hemiptera) são predadores vorazes que controlam populações de outros insetos, como as larvas de mosquitos, e até mesmo de outros organismos aquáticos, como girinos e alevinos. Além disso, todos esses insetos servem de alimento para outros organismos maiores, como outros insetos, peixes e sapos, bem como constituem grande parte da base da cadeia alimentar.

As diferentes espécies de insetos aquáticos apresentam diversas tolerâncias à poluição, temperatura da água e disponibilidade de nutrientes. Portanto, sua presença ou ausência em um determinado ambiente aquático pode fornecer informações importantes sobre a qualidade da água e a saúde geral do ecossistema.

Alguns grupos de insetos aquáticos estão associados a águas limpas e bem oxigenadas, que são características importantes para indicar água potável para o consumo da população. Quando os organismos apresentam distribuição relacionada a essas características ambientais, são chamados de bioindicadores. Devido a sua sensibilidade às mudanças ambientais, são utilizados para avaliar a qualidade do meio ambiente e como ele muda ao longo do tempo ou para detectar impactos ambientais. Os impactos de origem antrópica formam o foco principal das pesquisas com bioindicadores.

No contexto dos ecossistemas aquáticos, os insetos aquáticos funcionam como bioindicadores porque suas populações e comportamentos são altamente sensíveis às alterações nas condições da água e do ambiente ao seu redor, tanto no ambiente aquático como na bacia de drenagem. Ou seja, as consequências das ações como a retirada da vegetação natural ou o uso de herbicidas e de pesticidas podem ser carregadas para dentro do riacho pela ação das águas das chuvas. Por essa razão, o monitoramento desses organismos oferece informações valiosas sobre a saúde e a estabilidade dos ecossistemas aquáticos.

Pesquisas na Amazônia

Nossas pesquisas na Amazônia têm demonstrado que a análise da abundância (número de indivíduos), riqueza (número de espécies) e a distribuição desses insetos podem revelar a intensidade e os tipos de impactos ambientais que afetam os ecossistemas aquáticos. Por exemplo, a diminuição da porcentagem de vegetação existente na bacia de drenagem ou da vegetação ciliar, mesmo que em baixas quantidades já é suficiente para causar extinções locais. E esse efeito é diferente entre os biomas, sendo mais intenso nos ambientes mais florestados como o bioma Amazônia e Mata Atlântica.

Além disso, nossos estudos também têm contribuído para o desenvolvimento de métodos eficazes de monitoramento e conservação desses organismos, permitindo a detecção precoce de problemas ambientais ou a sugestão de estratégias para minimizar os impactos negativos das atividades humanas sobre esses organismos. A principal estratégia para monitorar impactos na qualidade da água é incluir a comunidade que vive na região, pois isso permite o monitoramento de longo prazo, mesmo em áreas remotas e de difícil acesso, que contribui para a detecção de impactos.

Apesar de sua importância para a qualidade da água, infelizmente, os insetos aquáticos enfrentam diversas ameaças, como a degradação do habitat, a poluição da água e alteração do regime hidrológico. Mudanças climáticas e a introdução de espécies exóticas também impactam diretamente esses organismos. Substituição da vegetação ripária por agricultura, pecuária e urbanização, resultam em poluição da água por substâncias tóxicas, agrotóxicos, diminuição de substrato e aquecimento da temperatura da água, o que propicia o desaparecimento de espécies sensíveis e o aumento de espécies tolerantes aos impactos.

Medidas de conservação

Para conservar os insetos aquáticos e, consequentemente, os ecossistemas aquáticos, é essencial que população e governos adotem medidas eficazes, como:

  • Reduzir a poluição da água por meio de regulamentações mais rigorosas.
  • Preservar e restaurar habitats aquáticos, como rios, córregos, lagos e pântanos, principalmente as de Áreas de Preservação Permanente.
  • Promover práticas agrícolas responsáveis, respeitando a legislação ambiental.
  • Mitigar os efeitos das mudanças climáticas por meio de ações de redução de emissões de gás carbônico.
  • Controlar a introdução de espécies invasoras.
  • Promover a educação ambiental para aumentar a sensibilização da população sobre a importância dos insetos aquáticos e da conservação dos ecossistemas aquáticos.

A conservação dos habitats aquáticos, a redução da poluição, assim como a educação ambiental e o engajamento da comunidade, são ferramentas poderosas na proteção dos insetos aquáticos e, consequentemente, da manutenção dos serviços ecossistêmicos providos por esses ambientes. Para garantir a preservação desses bioindicadores, é importante a adoção urgente de práticas sustentáveis.

Want to write?

Write an article and join a growing community of more than 182,800 academics and researchers from 4,948 institutions.

Register now