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Pesquisadores brasileiros e estrangeiros reunidos num trabalho de campo na Floresta Amazônica no Pará: falta de recursos e acessibilidade em áreas remotas limita investimentos em equipamentos, bolsas e retenção de cientistas na região. Divulgação / UFPA

Criação de centro de pesquisa integrado poderá superar os desafios da pesquisa na Amazônia

A Bacia Amazônica, com seus 7,5 milhões de km², ultrapassando a extensão da Austrália, destaca-se como uma das regiões mais diversas do planeta. A região abriga a maior porção de floresta tropical do mundo, desempenhando um papel crucial na geração de chuvas, na distribuição de umidade pelos “rios voadores” e na estabilidade climática, através do armazenamento e sequestro de carbono.

A Amazônia constitui um verdadeiro mosaico de identidades e culturas, abrigando aproximadamente 40 milhões de pessoas, representando mais de 300 etnias e línguas diferentes. As práticas, costumes e outros saberes ancestrais são preservados por comunidades tradicionais, tais como os povos indígenas, quilombolas, extrativistas e ribeirinhos.

Os conhecimentos tradicionais são essenciais para proteger a saúde e o bem-estar na Amazônia. Aproximadamente 70% das áreas protegidas do Brasil e 83% das terras indígenas estão na região. Isso destaca a importância de manter a diversidade natural e sociocultural, não só para o Brasil, mas para a sociedade global como um todo.

Dada a vasta diversidade e extensão da Amazônia, a pesquisa e gestão do território enfrentam diversas complexidades e desafios. Essas dificuldades tornam-se cada vez mais frequentes, destacando a necessidade urgente de iniciativas que fortaleçam e viabilizem essas ações com maior intensidade, qualidade e segurança.

Desafios para a pesquisa na Amazônia

A carência de infraestrutura de transporte representa um dos principais obstáculos para a realização de pesquisas de campo e monitoramento ambiental na Amazônia. A dificuldade de acesso a áreas remotas e os custos mais elevados são desafios que limitam a capacidade das instituições de conduzir estudos abrangentes na região.

A infraestrutura também afeta o isolamento de pesquisadores e instituições na Amazônia, especialmente aquelas distantes dos grandes centros urbanos. Essas instituições, muitas vezes, têm acesso a uma parcela significativamente menor dos investimentos em pesquisas de biodiversidade.

A falta de recursos e acessibilidade em áreas remotas limita a produção científica. Menos investimentos resultam em escassez de equipamentos, bolsas e retenção de cientistas, dificultando a competição por financiamentos futuros. Esse ciclo prejudica a geração de novos conhecimentos e compromete serviços essenciais para a população amazônida e brasileira.

Apesar de receber menos investimentos federais em pesquisa sobre biodiversidade, a Amazônia abriga universidades e instituições de pesquisa líderes na produção de conhecimento científico sobre a sociobiodiversidade. Com mais de 300 campi distribuídos em 160 municípios da Amazônia Legal, essas instituições envolvem pesquisadores, técnicos e professores, contribuindo para formar profissionais no desenvolvimento e proteção da região. Investir na integração desses grupos é crucial para fortalecer a pesquisa e promover o desenvolvimento sustentável e a conservação.

Papagaios amazônicos, apreendidos de caçadores ilegais, em tratamento e estudo em Mato Grosso do Sul: conservação da biodiversidade estará entre as oito coordenações previstas para compor o Cisam. AP Photo/Andre Penner

Como integrar as instituições amazônicas

A Universidade Federal do Pará (UFPA) propôs a criação do Centro Integrado da Sociobiodiversidade Amazônica (Cisam) para superar desafios como a escassez de recursos e a retenção de pesquisadores. A iniciativa visa integrar instituições de pesquisa e ensino superior na Amazônia, fortalecendo parcerias em Pesquisa, Ensino e Extensão.

A implementação do Cisam tem como propósito reduzir desigualdades, aumentar a produção científica e promover soluções sustentáveis para os desafios regionais. Principais objetivos incluem somar esforços para avançar em novas pautas e metas de pesquisa com participação ativa da sociedade amazônida, atuar de forma multidisciplinar na co-produção de soluções socioambientais e promover ações inclusivas de Pesquisa e Extensão, com abordagem “de baixo para cima e de dentro para fora”, destacando a liderança ativa das instituições e pessoas amazônidas.

A proposta do Cisam já conta com a adesão de 13 Universidades Federais (UFs) da Amazônia, representando a integração de mais de 13 mil professores e 203 mil estudantes, distribuídos em 840 cursos de graduação e 323 de pós-graduação em diversas cidades amazônicas. Essa colaboração visa alcançar uma ampla cobertura territorial na Amazônia e promover lideranças das instituições de ensino e pesquisa em áreas remotas, buscando solucionar os diversos desafios enfrentados por essas instituições.

Até o momento, somente as UFs estão incluídas na proposta do Cisam, devido à similaridade de objetivos organizacionais com missões voltadas para Pesquisa, Ensino e Extensão, coerência com a legislação vigente, capacidade de estabelecer parcerias interinstitucionais e expertise na Amazônia. No entanto, a expectativa é que futuramente outras universidades públicas pan-amazônicas e instituições de pesquisa na região também integrem o Cisam.

O projeto está em fase de desenvolvimento, com a proposta de criação de uma sede em Belém e núcleos em todas as demais Universidades Federais na Amazônia Legal. A proposta foi apresentada à Ministra de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), Luciana Santos, ao presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Celso Pansera, e foram realizadas reuniões com o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ricardo Galvão. O objetivo para o ano de 2024 é avançar nas tratativas para adquirir financiamento.

Ações diversas para uma região hiperdiversa

Propostas de solução e ações para a Amazônia devem levar em conta sua hiperdiversidade sociocultural e ambiental, assim como os variados desafios enfrentados pela região. É crucial desenvolver um plano estratégico para a alocação de recursos em pesquisa no Brasil, com ênfase especial na Amazônia. Isso inclui a redução das desigualdades regionais na distribuição de recursos para pesquisa e ensino, considerando as ameaças específicas enfrentadas pela região Norte.

Diante disso, o Cisam foi proposto com uma estrutura integrada de oito coordenações para diferentes tipos de projetos, abrangendo: Biodiversidade e Conservação; Monitoramento das Águas, Florestas, do Solo e Clima; Monitoramento do Oceano e da Foz do Amazonas, Contaminação Ambiental e Saúde do Amazônida; Povos e Populações da Amazônia; Cidades, Vilas e Territórios Amazônicos; Dinâmicas Socioeconômicas Territoriais e Fundiárias na Amazônia; Inovação, Bioeconomia e Desenvolvimento Sustentável.

Acreditamos que o Cisam será um catalisador de esforços para a pesquisa na Amazônia, unindo expertises, compartilhando recursos e impulsionando estudos abrangentes. Além disso, visamos contribuir para a melhoria da qualidade de vida na Amazônia, promovendo ações que influenciem positivamente políticas públicas na região. Atingir os objetivos de desenvolvimento sustentável na região só será possível ao incluir, ouvir, respeitar e fomentar o trabalho desenvolvido pelas UFs amazônicas.

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