Menu Close
uma anaconda verde
As anacondas verdes são verdadeiros colossos do mundo dos répteis, podendo atingir mais de sete metros de comprimento e pesar mais de 250 quilos: exames genéticos revelaram que espécie mais conhecida na verdade são duas, que divergiram há cerca de 10 milhões de anos. Shutterstock

Descoberta de nova espécie de cobra gigante na Amazônia surpreende cientistas

A anaconda verde há muito tempo é considerada um dos animais mais formidáveis e misteriosos da Amazônia. Nossa nova pesquisa altera a compreensão científica sobre essa magnífica criatura, revelando que ela é, na verdade, duas espécies geneticamente diferentes. Esta descoberta surpreendente abre um novo capítulo na conservação desse grande predador da selva.

As anacondas verdes são as cobras mais pesadas do mundo e estão entre as mais longas. Encontradas predominantemente em rios e áreas úmidas da América do Sul, elas são famosas por sua velocidade de relâmpago e capacidade de asfixiar presas enormes e depois engoli-las inteiras.

Meus colegas e eu ficamos chocados ao descobrir diferenças genéticas significativas entre as duas espécies de anaconda. Considerando que o réptil é um vertebrado tão grande, é notável que essa diferença tenha passado despercebida até agora.

As estratégias de conservação para as anacondas verdes devem agora ser reavaliadas, para ajudar cada espécie única a lidar com ameaças como mudanças climáticas, degradação do habitat e poluição. A descoberta também mostra a necessidade urgente de entender melhor a diversidade das espécies animais e vegetais da Terra antes que seja tarde demais.

cobra em galhos acima da água
Os cientistas descobriram uma nova espécie de cobra conhecida como anaconda verde do norte. Bryan Fry

Um predador de topo impressionante

Historicamente, quatro espécies de anaconda foram reconhecidas, incluindo as anacondas verdes (também conhecidas como anacondas gigantes).

As anacondas verdes são verdadeiros colossos do mundo dos répteis. As maiores fêmeas podem atingir mais de sete metros de comprimento e pesar mais de 250 quilos.

As cobras são bem adaptadas a uma vida passada principalmente na água. Suas narinas e olhos ficam no topo da cabeça, de modo que elas podem ver e respirar enquanto o resto do corpo está submerso. As anacondas são de cor oliva com grandes manchas pretas, o que permite que elas se misturem ao ambiente.

As serpentes habitam os exuberantes e intrincados cursos d'água das bacias amazônicas e do Rio Orinoco da América do Sul. Elas são conhecidas por sua furtividade, paciência e agilidade surpreendente. A flutuabilidade da água sustenta o volume substancial do animal e permite que ele se mova com facilidade e salte para emboscar presas tão grandes quanto capivaras (roedores gigantes), jacarés (répteis da família dos crocodilos) e veados.

As anacondas verdes não são venenosas. Em vez disso, elas derrubam a presa usando suas mandíbulas grandes e flexíveis e, em seguida, esmagam-na com seus corpos fortes, antes de engoli-la praticamente inteira.

Como predadoras de topo, as anacondas verdes são vitais para manter o equilíbrio em seus ecossistemas. E esse papel vai além da caça. Sua própria presença altera o comportamento de uma grande variedade de outras espécies, influenciando onde e como elas se alimentam, se reproduzem e migram.

As anacondas são altamente sensíveis às mudanças ambientais. Populações saudáveis de anacondas indicam ecossistemas vibrantes, com amplos recursos alimentares e água limpa. A diminuição do número de anacondas pode ser um prenúncio de problemas ambientais. Portanto, é fundamental saber quais espécies de anaconda existem e monitorar seus números.

Até o momento, há poucas pesquisas sobre as diferenças genéticas entre as espécies de anaconda. Nossa pesquisa teve como objetivo preencher essa lacuna de conhecimento.

cobra na água comendo veado
A anaconda verde tem mandíbulas grandes e flexíveis. Na foto: uma anaconda verde comendo um veado. JESUS RIVAS

Desvendando os genes das anacondas

Estudamos amostras representativas de todas as espécies de anaconda, em toda a sua distribuição em nove países.

Nosso projeto se estendeu por quase 20 anos. Peças cruciais do quebra-cabeça vieram de amostras que coletamos em uma expedição de 2022 à região de Bameno, no território de Baihuaeri Waorani, na Amazônia equatoriana. Fizemos essa viagem a convite do líder Waorani Penti Baihua, e em colaboração com ele. O ator Will Smith também participou da expedição, como parte de uma série que ele está filmando para a National Geographic.

Pesquisamos anacondas em vários locais de sua área de distribuição na América do Sul. As condições eram difíceis. Remamos por rios lamacentos e atravessamos pântanos. O calor era implacável e os enxames de insetos eram onipresentes.

Coletamos dados como o tipo e a localização do habitat e os padrões de chuva. Também coletamos tecido e/ou sangue de cada espécime e os analisamos no laboratório. Isso revelou que a anaconda verde, que antes se acreditava ser uma única espécie, é na verdade duas espécies geneticamente distintas.

A primeira é a espécie conhecida, Eunectes murinus, que vive no Peru, Bolívia, Guiana Francesa e Brasil. Nós lhe demos o nome comum de “anaconda verde do sul”. A segunda espécie recém-identificada é a Eunectes akayima ou “anaconda verde do norte”, que é encontrada no Equador, Colômbia, Venezuela, Trinidad, Guiana, Suriname e Guiana Francesa.

Também identificamos quando a anaconda verde divergiu em duas espécies: quase 10 milhões de anos atrás.

As duas espécies de anaconda verde parecem quase idênticas, e não há nenhuma barreira geográfica óbvia que as separe. Mas seu nível de divergência genética - 5,5% - é impressionante. Em comparação, a diferença genética entre humanos e macacos é de cerca de 2%.

green anaconda underwater
As duas espécies de anaconda verde passam grande parte de suas vidas na água. Shutterstock

Preservando a teia da vida

Nossa pesquisa desvendou uma camada do mistério que envolve as anacondas verdes. Essa descoberta tem implicações significativas para a conservação dessas espécies, especialmente para a recém-identificada anaconda verde do norte.

Até agora, as duas espécies têm sido abordadas como uma única entidade. No entanto, cada uma delas pode ter nichos ecológicos e áreas de distribuição diferentes e enfrentar ameaças diferentes.

Estratégias de conservação personalizadas devem ser elaboradas para proteger o futuro de ambas as espécies. Isso pode incluir novas proteções legais e iniciativas para proteger o habitat. Também pode envolver medidas para mitigar os danos causados pelas mudanças climáticas, pelo desmatamento e pela poluição - como os efeitos devastadores dos derramamentos de óleo nos habitats aquáticos.

Nossa pesquisa também é um lembrete das complexidades envolvidas na conservação da biodiversidade. Quando as espécies não são reconhecidas, elas podem passar despercebidas pelos programas de conservação. Ao incorporar a taxonomia genética ao planejamento da conservação, podemos preservar melhor a intrincada rede de vida da Terra - tanto as espécies que conhecemos hoje quanto as que ainda serão descobertas.

This article was originally published in English

Want to write?

Write an article and join a growing community of more than 182,600 academics and researchers from 4,945 institutions.

Register now