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Ilustração de computador da Terra com a Lua ao fundo
Atividades como a mineração da Lua por recursos estão cada vez mais próximas de virarem realidade, então é preciso buscar maneiras de evitar que provoquemos danos no ambiente lunar e espacial da mesma maneira que fizemos aqui na Terra (Shutterstock)

É hora de discutir o impacto da ação humana na Lua

Os seres humanos sempre olharam para o céu, usando as estrelas como guias de navegação ou para contar histórias espirituais. Toda civilização humana olhou para as estrelas e usou os movimentos celestes para medir o tempo e encontrar significado.

Essa sede insaciável de conhecimento, combinada com os avanços tecnológicos, possibilitou que sonhássemos em viajar pelo espaço. Esses sonhos se tornaram cada vez mais reais após a Segunda Guerra Mundial, a Revolução Industrial, a Guerra Fria e a exploração em grande escala dos recursos da Terra.

Os sonhos de viagens espaciais começaram pequenos com o lançamento do Sputnik-1 pela União Soviética e aumentaram com o pouso da Apollo 11 na Lua em 1969.

Seis décadas depois, os planos estão avançando para turismo espacial, novas missões à Lua e para Marte e até mineração na Lua.

O Registro de Recursos Lunares, uma empresa privada que localiza recursos valiosos na Lua e ajuda investidores a planejar operações de exploração e extração necessárias, observa: “A corrida espacial está evoluindo para a industrialização espacial”.

De acordo com a NASA, “a Lua contém centenas de bilhões de dólares em recursos inexplorados”, incluindo água, hélio-3 e metais de terras raras usados em aparelhos eletrônicos.

O alvorecer do Antropoceno

foto em preto e branco de uma pegana em solo sedimentar
Pegada de astronauta em solo lunar. (Marshall Space Flight Center/NASA)

Como um grupo de acadêmicos que pesquisa vários aspectos da sustentabilidade ambiental na Terra, estamos alarmados com a velocidade desses desenvolvimentos e com os impactos que a exploração de recursos terá nos ambientes lunar e espacial.

Há um movimento na comunidade científica internacional que clama pelo registro de um novo período geológico - o Antropoceno - refletindo a enorme extensão em que a atividade humana alterou o planeta desde o final da Segunda Guerra Mundial.

Os estratigrafistas - geólogos que estudam as camadas de rochas e sedimentos - procuram um impacto global mensurável das atividades humanas no registro geológico. De acordo com suas pesquisas, o ponto de partida para o Antropoceno foi identificado como tendo começado na década de 1950 como consequência, entre outros, dos testes de bombas nucleares.

Para alertar a Humanidade e evitar a extensa destruição no espaço que causamos na Terra, pode ser eficaz acrescentar um “Antropoceno lunar” à escala de tempo geológico da Lua.

Os argumentos para um Antropoceno lunar são interessantes. Pode-se dizer que, desde o primeiro contato humano com a superfície da Lua, temos visto um impacto antropogênico. E é provável que esse impacto cresça drasticamente. Isso é apresentado como justificativa para uma nova época geológica para a Lua.

uma nuvem em forma de cogumelo causada por uma explosão nuclear
Uma imagem capturada imediatamente após a primeira explosão atômica em Alamogordo, Novo México, em 16 de julho de 1945. A presença de resíduos nucleares da precipitação radioativa das explosões iniciais é considerada uma das marcas do início do Antropoceno. (Shutterstock)

Danificando a Terra

Essa nova “época humana” é muito debatida entre estratigrafistas e pesquisadores de outras disciplinas. Para os pesquisadores e artistas de ciências humanas, a importância do Antropoceno está no poder que o conceito tem de evocar a responsabilidade humana por levar o sistema da Terra a um ponto de inflexão.

Em The Shock of the Anthropocene, os historiadores Christophe Bonneuil e Jean-Baptiste Fressoz argumentam que a nova época humana implica o reconhecimento de que os avanços tecnocientíficos - que impulsionaram economias sociopolíticas baseadas no extrativismo, no consumo e no desperdício - levaram aos extensivos danos que observamos na Terra atualmente.

Durante milênios, a maioria das sociedades compreendeu a importância de seu relacionamento com o mundo natural para a sobrevivência. Mas a industrialização e a economia em constante crescimento nos países desenvolvidos destruíram essa relação.

Por exemplo, as árvores costumavam ser respeitadas por fornecerem madeira, alimentos, sombra e muito mais. Mas nosso crescimento industrial mudou tudo isso; nos últimos 100 anos, mais árvores foram cortadas do que nos 9 mil anos anteriores.

Um Antropoceno lunar

E agora o Antropoceno, essa era de impacto humano, também está chegando à Lua.

A NASA estima que já existam 227 mil quilos de lixo humano espalhados pela Lua, a maioria proveniente de explorações espaciais, incluindo veículos lunares e outros equipamentos, excrementos, estátuas, bolas de golfe, cinzas humanas e bandeiras, entre outros objetos.

Um número crescente de missões lunares e a extração de recursos da Lua poderiam destruir os ambientes lunares. Isso reflete o que aconteceu em nosso planeta: os seres humanos usaram essa coleta de “recursos naturais” e produziram resíduos e degradação suficientes para nos levar ao atual sexto evento de extinção em massa.

Com as missões Artemis, a NASA está planejando restabelecer a presença humana na Lua.

Nossa sociedade descartável leva não apenas à destruição do habitat na Terra, mas também agora na Lua e no espaço. Devemos repensar o que realmente precisamos. Sem um sistema terrestre totalmente funcional, incluindo a biodiversidade e a contribuição da natureza para a vida, não conseguiremos sobreviver.

Se a intenção é emitir uma palavra de cautela e, preventivamente, alertar e provocar um sentimento de responsabilidade por parte dos atores que provavelmente impactarão a superfície da Lua, pode muito bem ser o momento certo para nomear o Antropoceno lunar. Isso pode ajudar a evitar o tipo de destruição extensa e descuidada que causamos e continuamos a testemunhar aqui na Terra.

This article was originally published in English

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