Menu Close
Eraldo Peres/AP

Imagem do Brasil na imprensa estrangeira melhorou em 2023

O primeiro ano do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva como presidente foi marcado pela tentativa de reconstrução do prestígio do Brasil no mundo. Enquanto durante o governo Bolsonaro, o país deu passos claros na direção de perda de prestígio e teve um chanceler defendendo ser aceitável virar um pária internacional, Lula voltou ao poder com uma “doutrina” baseada em restaurar a imagem do Brasil e suas relações.

Trata-se de um conjunto de intenções importante. Mais do que uma preocupação trivial, uma boa imagem ajuda na projeção internacional de um país e pode impulsionar a sua capacidade de atrair comércio, investimentos, turistas, talentos e consumidores para seus produtos e serviços. É o primeiro passo para alcançar status no mundo, uma das grandes prioridades da política externa brasileira desde que o país se tornou um Estado dentro do contexto geopolítico global.

Mas alcançar isso não é tão simples. Danificar a imagem de um país pode ser fácil, mas melhorar essa imagem é bem mais complicado. O governo Lula tem enfrentado grandes críticas por algumas de suas declarações sobre geopolítica (especialmente em relação às guerras na Ucrânia e em Gaza), e tem sido muito cobrado para mostrar avanços reais na política ambiental, o que revela que os desafios são imensos.

O trabalho para reverter os danos causados por Bolsonaro ao prestígio do Brasil no mundo teve resultado positivo pelo menos na imagem do Brasil projetada pela imprensa internacional. Ao longo de 2023, a mídia estrangeira adotou um tom equilibrado ao tratar do país, com maior proporção de notícias com abordagem neutra e um volume muito próximo de textos positivos e negativos.

Na comparação entre o último ano do presidente de extrema-direita e o primeiro ano de Lula no poder, registrou-se um aumento de nove pontos percentuais na proporção de notícias com tom positivo e redução proporcional na de tom negativo desde que foi anunciada a “volta” do país.

Em 2023, 50% de todas as menções ao Brasil na mídia internacional estava em textos factuais, neutros, sem julgamento de valor e sem potencial de afetar a forma como o país é percebido pelos leitores estrangeiros. A outra metade se divide de forma quase igual, com 26% de textos com tom negativo e 24% de textos com tom positivo.

Este é o resultado de uma compilação de dados do Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil), um levantamento sistemático sobre a forma como o Brasil é retratado na mídia estrangeira publicado pelo portal Interesse Nacional.

Trata-se da análise e construção de um banco de dados de notícias sobre o Brasil em sete veículos da imprensa estrangeira: The Guardian (Reino Unido), The New York Times (Estados Unidos), El País (Espanha), Le Monde (França), Clarín (Argentina), Público (Portugal) e China Daily (China).

A partir desse levantamento, o índice avalia o nível de visibilidade internacional e o tom da cobertura utilizada ao tratar do país. São considerados positivos os textos que são avaliados como tendo a possibilidade de melhorar a percepção externa sobre o país, enquanto negativos são os que podem piorar a imagem do Brasil. As notícias factuais, sem juízo de valor, são classificadas como não tendo influência sobre a imagem do país.

O resultado anual de 2023 pode ser visto como uma melhora da imagem internacional do Brasil.

Quando o iii-Brasil completou seu primeiro ano, em abril de 2023, a média da proporção de notícias sobre o país com tom negativo era mais do que o dobro das citações positivas. No total, entre abril de 2022 e o mesmo mês do ano seguinte, 34% de todos os textos sobre o país eram desfavoráveis ao país, enquanto apenas 16% tinham tom favorável. Ao longo de 2023, entretanto, a proporção de textos positivos subiu oito pontos percentuais, enquanto os negativos caíram oito pontos.

A mudança de tom foi perceptível desde a vitória de Lula nas eleições de 2022, com muitas reportagens a respeito do resultado do pleito adotando um tom elogioso em relação ao presidente eleito e às perspectivas para o país. A transformação ficou ainda mais clara quando completaram-se os cem primeiros dias do novo governo, quando um em cada cinco artigos publicados por jornais do exterior teve tom positivo. praticamente o dobro da proporção das citações favoráveis ao Brasil registradas durante os seis meses de governo de Jair Bolsonaro entre abril de 2022 e o fim de setembro do mesmo ano, antes das eleições presidenciais — 11%.

Uma outra análise comparativa, entre a imagem do país analisada pelo iii-Brasil nos seis últimos meses de Bolsonaro e os primeiros seis meses de Lula, revelou que a projeção do Brasil na imprensa estrangeira durante o governo Lula foi mais positiva do que durante os últimos seis meses do governo de Bolsonaro. No total, a proporção de textos favoráveis ao país sob Lula no período foi nove pontos percentuais mais alta do que sob Bolsonaro, enquanto as menções negativas ao país caíram quatro pontos.

A troca de governo em 1º de janeiro foi acompanhada por uma mudança na abordagem da imprensa estrangeira, especialmente na cobertura de política e de meio ambiente, dando espaço para otimismo em relação à democracia brasileira e à atuação do governo no combate ao desmatamento. Ainda assim, foi possível registrar notícias negativas nas duas áreas ao longo do ano, tanto no destaque dado aos ataques golpistas em Brasília quanto na cobrança por ações mais marcantes do governo Lula contra o aquecimento global.

Maior visibilidade

No total, foram coletadas e analisadas 3.021 reportagens com menção de destaque ao Brasil nos sete veículos analisados pelo iii-Brasil em 2023. Em média, foram publicados 251 textos por mês sobre o país no universo de jornais estrangeiros monitorados pelo índice.

O mês com maior visibilidade do país foi janeiro, com recorde de notícias publicadas sobre o Brasilpor conta da cobertura da posse de Lula e os ataques golpistas de 8 de janeiro em Brasília. No total, foram analisadas 553 artigos sobre o país nos sete veículos analisados. O mês de dezembro, em contrapartida, foi o período em que o Brasil foi menos abordado pela mídia estrangeira, com destaque em apenas 150 textos.

Durante os nove meses em que os dados da imprensa estrangeira foram coletados em 2022, a visibilidade do Brasil foi de 2.567 menções, uma média de 285 por mês. Isso mostra uma redução de 12% no total de menções ao país nos sete veículos de imprensa analisados em 2023. Parte da explicação para isso pode estar na grande atenção que a mídia estrangeira dedicou aos dois turnos da eleição presidencial em outubro daquele ano, quando o país teve bastante destaque no exterior.

Mesmo com um menor número de menções nos jornais estrangeiros analisados, é evidente a melhora da imagem do país na imprensa internacional desde a posse de Lula. Ainda que um quarto das reportagens sobre o país se debruce sobre problemas do país ou mesmo critique posições do governo, a atenção também se voltou para aspectos positivos como a estabilidade da democracia e a redução do desmatamento. São indícios de que o trabalho para recuperar o prestígio do país pode ser longo e difícil, mas tem potencial de render bons resultados.

Want to write?

Write an article and join a growing community of more than 182,600 academics and researchers from 4,945 institutions.

Register now