Menu Close
Uma ilustração mostrando a evolução do SARS-CoV-2.
A variante JN.1 tornou-se dominante em todo o mundo, causando grandes ondas de infecções. Veja o que sabemos sobre ela até o momento e por que ela é tão importante. Lightspring/Shutterstock

O surgimento da variante JN.1 é uma mudança de etapa na pandemia da COVID-19. Por que isso é importante?

Desde que foi detectada em agosto de 2023, a variante JN.1 da COVID se espalhou amplamente. Ela se tornou dominante em todo o mundo, gerando a maior onda de COVID observada em muitas regiões no ano passado.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a JN.1 como uma “variante de interesse” em dezembro de 2023 e, em janeiro, declarou veementemente que a COVID era uma ameaça contínua à saúde global, causando “demasiadas” doenças evitáveis com um potencial preocupante de consequências de longo prazo para a saúde.

A JN.1 é significativa. Ela é uma versão surpreendentemente nova do SARS-CoV-2 (o vírus que causa a COVID) e está rapidamente substituindo outras cepas circulantes (como a ômicron, conhecida como B.1.1.529, e suas sublinhagens).

Também é importante por causa do que diz sobre a evolução da COVID. Normalmente, as variantes do SARS-CoV-2 são muito semelhantes com o que existia antes, acumulando apenas algumas mutações de cada vez que dão ao vírus uma vantagem significativa em relação ao seu parente.

No entanto, ocasionalmente, como foi o caso do surgimento da ômicron há dois anos, surgem variantes inesperadas que têm características marcadamente diferentes das que existiam antes. Isso tem implicações significativas para a doença e a transmissão.

Até agora, não estava claro se essa evolução de “mudança radical” aconteceria novamente, especialmente devido ao sucesso das variantes da ômicron em sua constante evolução.

A JN.1 é tão distinta e está causando uma onda de novas infecções que muitos estão se perguntando se a OMS reconhecerá a JN.1 como a próxima “variante de preocupação”, como fez com a ômicron, dando a ela a sua própria letra grega. De qualquer forma, com a JN.1, entramos em uma nova fase da pandemia.

De onde veio a JN.1?

A história da variante JN.1 (ou BA.2.86.1.1) começa com o surgimento de sua linhagem parental BA.2.86 por volta de meados de 2023, que se originou de uma subvariante ômicron BA.2 muito anterior, de 2022.

As infecções crônicas por variantes do vírus SARS-CoV-2, o causador da Covid-19, que podem permanecer sem resolução por meses (se não anos, em algumas pessoas) provavelmente desempenham um papel no surgimento dessas variantes de mudança gradual.

Em pessoas cronicamente infectadas, o vírus testa silenciosamente e, por fim, retém muitas mutações que o ajudam a driblar a imunidade e a sobreviver nessa pessoa. No caso da nova variante JN.1 ou BA.2.86, isso resultou em mais de 30 mutações da proteína spike (proteína na superfície do SARS-CoV-2 que permite a ele se fixar em nossas células).

O grande volume de infecções que ocorrem globalmente criam um cenário que oferece condições para que haja uma grande evolução viral. O SARS-CoV-2 continua a ter uma taxa muito alta de mutação. Consequentemente, o própria JN.1 já está sofrendo mutações e evoluindo rapidamente.

Como a JN.1 é diferente de outras variantes?

A variante BA.2.86 ou JN.1 está se comportando de um modo que parece ser único em estudos de laboratório de duas maneiras.

A primeira está relacionada à forma como o vírus escapa do sistema imune. A JN.1, herdou mais de 30 mutações em sua proteína spike. Uma das suas novas mutações, a L455S, diminui ainda mais a capacidade dos anticorpos (uma parte da resposta protetora do sistema imunológico) de se ligar ao vírus e evitar a infecção.

A segunda maneira envolve mudanças no modo como a variante JN.1 entra nas células e se replica no seu interior.

Sem aprofundar nos detalhes moleculares, pesquisas recentes feitas em laboratórios dos Estados Unidos e da Europa observaram que a BA.2.86 entra nas células do pulmão de forma semelhante às variantes anteriores à ômicron, como a delta.

Em contraste, o trabalho preliminar do Kirby Institute da Austrália, usando técnicas diferentes, encontrou características de replicação que se alinham melhor com as linhagens da variante ômicron.

Estudos adicionais para resolver esses diferentes achados de entrada de células são importantes porque têm implicações sobre onde o vírus pode preferir se replicar no corpo, o que poderia afetar a gravidade e a transmissão da doença.

Seja qual for o caso, essas descobertas mostram que a JN.1 (e o SARS-CoV-2 em geral) não só consegue contornar nosso sistema imunológico, como também está encontrando novas maneiras de infectar as células e se transmitir com eficácia. Precisamos estudar melhor como isso ocorre nas pessoas e como afeta os resultados clínicos.

A JN.1 é mais grave?

Uma mulher em um supermercado usando uma máscara.
A JN.1 tem algumas características que a distinguem de outras variantes. Elizaveta Galitckaia/Shutterstock

A evolução gradual da variante JN.1 deu ao vírus da COVID uma vantagem de crescimento global muito além das sublinhagens baseadas na sublinhagem XBB.1 (da ômicron) que enfrentamos em 2023.

Apesar desses recursos, as evidências sugerem que nosso sistema imunológico adaptativo ainda pode reconhecer e responder à nova variante JN.1 de forma eficaz. Vacinas, testes e tratamentos monovalentes atualizados permanecem eficazes contra ela.

Dois elementos são levados em consideração para estabelecer a gravidade de uma nova variante do vírus. Primeiro, se for mais grave “intrinsecamente” (variante capaz de causar pior doença com infecção na ausência de qualquer imunidade) e, segundo, se o vírus tiver maior transmissão, causando mais doenças e mortes, simplesmente porque infecta mais pessoas. Este último é certamente o caso da JN.1.

E agora?

Simplesmente não sabemos se esse vírus está em um caminho evolutivo para se tornar a “próxima gripe comum” ou não, e não temos ideia de qual seria esse prazo.

Embora o exame das trajetórias de quatro coronavírus históricos possa nos dar um vislumbre de para onde podemos estar indo, isso deve ser considerado como apenas um caminho possível.

O surgimento da JN.1 ressalta que estamos vivenciando uma epidemia contínua de COVID e que esse parece ser o caminho a seguir em um futuro próximo.

Estamos agora em uma nova fase pandêmica: o período pós-emergência. No entanto, a COVID continua sendo a principal doença infecciosa que causa danos em todo o mundo, tanto por infecções agudas quanto pela COVID longa. No plano social e individual, precisamos repensar os riscos de aceitar onda após onda de infecção.

Em suma, isso ressalta a importância de estratégias abrangentes para reduzir a transmissão e os impactos da COVID-19. Aconselha-se que as pessoas continuem a tomar medidas ativas para se protegerem e protegerem as pessoas ao seu redor.

Para uma melhor preparação para ameaças emergentes e uma melhor resposta à pandemia atual, é fundamental que continuemos com a vigilância global. A baixa representação dos países de baixa e média renda em estudos é um ponto cego preocupante. A intensificação da pesquisa também é fundamental.

This article was originally published in English

Want to write?

Write an article and join a growing community of more than 182,600 academics and researchers from 4,945 institutions.

Register now