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um sanduíche muito grande
Trabalho de cientistas neozelandeses com pesquisadores da USP e Unicamp analisou o comércio de alimentos para consumo humano entre 254 países de 1986 a 2020 para calcular os fluxos de 48 nutrientes essenciais durante esse período. Getty Images

Monitor global de nutrientes - criado com ajuda de cientistas brasileiros - rastreia a origem dos ingredientes da nossa comida

Alguma vez você já olhou para o seu café da manhã, almoço ou jantar e pensou de onde os vários ingredientes viajaram para chegar ao seu prato?

Um sanduíche básico na Nova Zelândia pode facilmente representar cinco países: um pão australiano de trigo e semente de gergelim indiano, salame dinamarquês, alface e queijo locais, temperados com pimenta vietnamita.

E como os alimentos percorrem um longo caminho para chegar até você, o mesmo acontece com sua nutrição.

A pesquisa sobre o comércio global de alimentos - especialmente o comércio de cereais - tem uma longa história. Mais recentemente, os pesquisadores começaram a considerar os nutrientes - energia, proteína, vitaminas, minerais - que circulam pelo mundo dentro dos alimentos comercializados.

À medida que aprendemos mais sobre o comércio global de nutrientes, podemos montar um quadro melhor de como esses principais ingredientes dietéticos são distribuídos, e como eles afetam a saúde da população global.

Mapeando o comércio global de nutrientes

A Iniciativa de Nutrição Sustentável realiza pesquisas de modelagem sobre os vínculos entre a produção global de alimentos e a nutrição da população mundial.

Trabalhando com pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no Brasil, publicamos agora uma análise mais ampla do comércio global de nutrientes ao longo do tempo e seu impacto na saúde.

Esta análise mostra a variação no comércio de nutrientes entre países com níveis de renda diferentes, e algumas ligações positivas entre o comércio de nutrientes e a saúde.

Nossa equipe criou um grande conjunto de dados de todos os fluxos de alimentos para consumo humano entre 254 países de 1986 a 2020. Com base nisso, calculamos os fluxos de 48 nutrientes essenciais durante esse período.

Como são muitas informações para um único artigo científico, a equipe criou um aplicativo interativo para permitir que qualquer pessoa explore os dados.

O artigo em si se concentrou em alguns nutrientes importantes: proteína, cálcio, ferro e vitaminas A e B12. Esses nutrientes são usados com frequência em análises de segurança alimentar (ter acesso confiável a alimentos nutritivos em quantidade suficiente e a preços acessíveis) devido à sua importância para a saúde humana.

Alguns desses nutrientes são insuficientemente fornecidos em muitas partes do mundo, principalmente em países de baixa renda. Ao mesmo tempo, o comércio de nutrientes ao longo dos 35 anos que analisamos cresceu rapidamente, como mostra o gráfico abaixo para a vitamina B12.


Comércio de vitamina B12 por classificação de renda do país, 1986-2020: H = países de alta renda, UM = renda média alta, LM = renda média baixa, L = renda baixa, ODU = origem ou destino não registrado. Nick William Smith, CC BY-SA

Desigualdade e nutrientes

Os países de alta renda foram os maiores importadores de vitamina B12, mas também dos outros nutrientes analisados, em grande parte devido ao comércio com outros países de alta renda. Isso ocorre apesar de esses países terem apenas cerca de 15% da população global.

Por outro lado, os países de baixa renda têm pouca participação no comércio global de quaisquer nutrientes. Isso limita sua capacidade de melhorar a diversidade e a qualidade da dieta de sua população por meio de alimentos provenientes de fora de suas fronteiras.

A maioria dos parceiros comerciais da Nova Zelândia está nas faixas de renda mais alta. O leite e a carne dominam as exportações de proteína da Nova Zelândia, sendo a China o principal parceiro (veja o gráfico abaixo).

A quantidade de proteína exportada atenderia às necessidades de quase sete vezes a população da Nova Zelândia. Em um país como a China, é claro, essa é apenas uma pequena fração da população.

Em contrapartida, quase 60% das importações de proteína da Nova Zelândia vêm da Austrália, principalmente trigo e produtos de trigo. E a Nova Zelândia importa proteína suficiente para atender a cerca de metade das necessidades de sua população.


Exportações de proteína da Nova Zelândia por país e grupo de alimentos. Nick William Smith, CC BY-SA

Também analisamos os dados socioeconômicos, demográficos e de resultados de saúde potencialmente associados aos padrões de consumo de alimentos e ao comércio de nutrientes.

Os resultados sugerem que o maior envolvimento em redes de comércio de nutrientes foi significativamente associado a melhorias nas taxas de mortalidade infantil, menor prevalência de anemia em mulheres em idade reprodutiva e maior expectativa de vida.

Segurança alimentar e nutrição

É preocupante ver o baixo envolvimento dos países de baixa renda no comércio de nutrientes, principalmente em função dos benefícios que ele pode trazer para a saúde de suas populações.

Nossa pesquisa fornece o contexto de como os nutrientes comercializados são importantes para atender às necessidades da população. Esse conhecimento pode ser usado para identificar os pontos fracos do sistema alimentar global e quais choques (climáticos, políticos ou biológicos) podem ter as maiores consequências para a nutrição.

Esses dados podem, então, ser combinados com outros conhecimentos e modelos de produção, distribuição e consumo de alimentos em nível nacional para proporcionar uma visão mais completa dos sistemas alimentares.

O comércio de alimentos desempenha um papel fundamental na promoção da segurança alimentar e da boa nutrição. O comércio cresceu rapidamente, tanto em quantidade quanto em valor econômico, nos últimos 35 anos. É essencial compreender sua importância para uma nutrição saudável.

This article was originally published in English

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